Posicionamento de Bolsonaro surpreende infectologistas e secretário da Saúde de Santos

Presidente da República chamou conoravírus de "gripezinha", falou que não precisa se preocupar devido ao "histórico de atleta" e pediu fim do confinamento em massa

Por: Da Redação  -  25/03/20  -  15:04
Atualizado em 25/03/20 - 15:22
Bolsonaro sanciona MP da renda básica emergencial
Bolsonaro sanciona MP da renda básica emergencial   Foto: Carolina Antunes/PR

A fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o combate ao coronavírus, na última terça-feira (24) surpreendeu infectologistas ouvidos por A Tribuna  e também o secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz.


A pandemia, que já matou 46 pessoas no Brasil (e mais de 17 mil no mundo), foi novamente chamada de “gripezinha” por  Bolsonaro, durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão. “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha, ou resfriadinho, como diria aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão”, disse. 


O presidente também atacou a imprensa, a qual atribui uma suposta histeria com relação à doença, a partir da divulgação da escalada do coronavírus na Itália. O chefe do Executivo Nacional também criticou as medidas adotadas por governos estaduais e municipais, de fechamento de comércio e isolamento social. Medidas adotadas em boa parte do mundo contra a disseminação do vírus.


Evaldo Stanislau, médico infectologista do Hospital São Francisco Xavier, de Cubatão, e do Hospital das Clínicas, de São Paulo, reforça que as medidas restritivas são adequadas e importantes.


“Fechar escolas e comércio é uma tentativa de tirar pessoas da rua que possam se contaminar e levar o vírus para dentro de casa, onde pode haver pessoas na faixa de risco”.


Cada pessoa infectada pode transmitir o vírus para até três pessoas. O isolamento social e as medidas de higiene reduzem essa possibilidade para menos de um. Em outras palavras, diminui a escala de transmissão. “A fala do presidente é desrespeitosa com toda a cadeia de profissionais da Saúde que estão enfrentando essa pandemia”, disse.


Cordão sanitário


Marcos Caseiro, médico infectologista da Prefeitura de Santos e professor universitário, diz que as medidas restritivas “fecham o cordão sanitário” e quebram a cadeia de transmissão. “É claro que os idosos não vão para a escola, mas as crianças vão e podem levar o vírus para casa, contaminar os avós e pessoas idosas”.


Pesquisando os dados de Wuhan, a cidade chinesa onde começou a transmissão do coronavírus, Caseiro mostra que a quarentena determinada pelas autoridades chinesas foi fundamental para reduzir o contágio nos municípios ao redor. “Houve transmissão, mas bem menos do que se não tivessem adotado as medidas restritivas”.


As providências anunciadas pelo Estado e pelas prefeituras da região são adequadas, diz Caseiro. “Não vamos errar pelo excesso. Reduzindo a velocidade de transmissão ganhamos tempo para estruturar a rede de atendimento na saúde. O cenário ruim é todos ficando doentes ao mesmo tempo”.


Evidências


“As políticas públicas trabalham com evidências. E as evidências sobre o Covid-19 mostram um cenário bem distante daquilo que o presidente manifestou”, disse o secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz.


Ele disse esperar que o Ministério da Saúde continue com as “boas práticas” que vem adotando, e que estados e municípios possam desenvolver as estratégias de prevenção para evitar cenários mais complexos no País.


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