Pesquisa liga tipo sanguíneo à casos graves de covid-19

Trabalho do Hemocentro de Ribeirão Preto (SP) mostra mais casos graves de coronavírus entre pessoas que possuem sangue do tipo A

Por: Júnior Batista & Da Redação &  -  21/03/21  -  15:00
Tipo sanguíneo A vem sendo estudado no Brasil e em outros países por sua relação com o vírus
Tipo sanguíneo A vem sendo estudado no Brasil e em outros países por sua relação com o vírus   Foto: Divulgação/Santa Casa

Uma pesquisa do Hemocentro de Ribeirão Preto (SP) mostrou uma ligação entre as pessoas que possuem o sangue tipo A e o desenvolvimento da forma gravíssima da covid-19.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal, GloboPlay grátis e descontos em dezenas de lojas, restaurantes e serviços!


Segundo o médico e pesquisador Gil Cunha De Santis, do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto, unidade ligada à USP, entre 72 pacientes internados em estado gravíssimo no HC e no Hospital Estadual de Serrana (SP), 52% eram pessoas que possuíam o tipo sanguíneo A, enquanto que 32% eram do tipo O.


>> Confira outras informações sobre a composição sanguínea


Esse fator chamou a atenção porque, atualmente, segundo o médico, a maior parte da população do Estado é de pessoas com tipo O.


“É importante ressaltar que este não é um fator determinante. Nas pessoas que já possuem fatores de risco, como diabetes, hipertensão e obesidade, por exemplo, esses tipos de comorbidade prevalecem em relação ao sangue. É mais uma informação na busca pelo entendimento da doença”.


Isso é porque não quer dizer que, necessariamente, quem tem sangue tipo A pode ter mais chances de pegar covid, por exemplo. O médico ressalta que a pesquisa foi feita apenas com pacientes em estágio gravíssimo da doença, com necessidade de internação e intubação.


A pesquisa será divulgada ainda neste mês, em versão digital, na revista britânica Transfusion Medicine. Santis diz que a Organização Mundial da Saúde (OMS) também pediu acesso aos dados da pesquisa.


“Há um ano, começamos um estudo do uso do plasma convalescente, colhido de pessoas com covid e com anticorpos. O objetivo era utilizá-lo nos pacientes de forma grave. No decorrer do estudo, em setembro, percebemos que havia uma inversão do tipo sanguíneo nos pacientes em estado crítico e que estão na UTI, com necessidade de ventilação mecânica”.


Santis explicou que essa característica já havia sido notada, de forma parecida, na época da Sars-Cov, primeira versão do coronavírus. “Um francês observou que quem tinha o anticorpo anti-A, ou seja, pessoas do tipo sanguíneo O, possuía uma capacidade maior de dificultar a ligação do coronavírus ao corpo”.


O que acontece, segundo o médico, é que pessoas que possuem o tipo A no sangue não têm esse anticorpo, por isso o vírus se ligaria mais facilmente ao organismo.


“O sangue tipo O tem vantagem em algumas doenças infecciosas graves. Sabemos que a malária grave mata menos quem é O do que quem é A. Quem é do tipo O tem duas vezes menos trombose venosa do que quem não é O. E uma das complicações mais graves da covid é justamente a trombose. Todos esses fatores podem influenciar no desenvolvimento da doença. A trombose e malária já sabemos, o resto é hipótese”.


Objetivo


“É importante ressaltar que este não é um fator determinante. Nas pessoas que já possuem fatoresde risco, como diabetes, hipertensão e obesidade, por exemplo, esses tipos de comorbidade prevalecem em relação ao sangue. É mais uma informação na busca pelo entendimento da doença” - Gil Cunha De Santis, Médico e pesquisador do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto


Equipe norte-americana atesta a mesma relação


A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) ainda não tem uma posição oficial sobre o assunto, mas está ciente dos estudos. A entidade vai esperar a publicação do artigo para se manifestar. No entanto, o médico infectologista Leonardo Weissmann diz que houve um artigo de pesquisadores de Boston (EUA) sobre o tema.


“Os pesquisadores demonstram que o domínio de ligação ao receptor Sars-CoV-2 reconhece preferencialmente o antígeno do grupo sanguíneo A expresso nas células epiteliais respiratórias, possivelmente explicando o risco aumentado de insuficiência respiratória nesses pacientes”. Na prática, é uma sugestão de que o coronavírus “prefere” pessoas do tipo sanguíneo A.


O médico Gil De Santis reforça que este é mais um elemento objeto de estudo. “O que serve de ajuda, daqui para frente, é incluir nesses pacientes mais graves a tipagem sanguínea como um dos exames a serem feitos. É importante o médico saber quais são os fatores de risco que ele tem para desenvolver a forma grave”.


Para ele, também é possível instituir um tratamento precoce. “O tratamento precoce que eu falo é hidratação, observar oxigênisado e manter em vigilância. Não é dar remédio sem comprovação científica. Não tem uma droga que inative o vírus, mas a doença tem tratamento. Isso tudo é tratamento, inclusive prococe. Sem falar em exercício físico, que é bom para qualquer doença”.


Logo A Tribuna
Newsletter