Período mais crítico da pandemia está próximo, dizem especialistas

Em transmissão ao vivo pelo Grupo Tribuna, infectologistas David Uip e Marcos Caseiro falam de pico nas próximas semanas

Por: Maurício Martins  -  19/05/20  -  21:05
Transmissões ocorrem, ao vivo, na página do Facebook do Grupo Tribuna
Transmissões ocorrem, ao vivo, na página do Facebook do Grupo Tribuna   Foto: Alexsander Ferraz/AT

O crescente número de infectados por coronavírus mostra que o Estado de São Paulo está chegando ao período mais crítico da pandemia. Para os infectologistas David Uip e Marcos Caseiro, o pico deve acontecer nas próximas semanas, inclusive na Baixada Santista. Os especialistas afirmam que a curva só não disparou e atingiu o topo mais rápido porque as medidas de isolamento foram eficazes. Para eles, é fundamental manter a quarentena.  


Os médicos participaram de uma transmissão ao vivo pelo Facebook do Grupo Tribuna na tarde desta terça-feira (19), junto com diretor-presidente da Unimed Santos, Claudino Guerra Zenaide. Mediaram o debate os jornalistas Alexandre Lopes, editor-chefe de Web no Grupo Tribuna, e Arminda Augusto, editora-chefe do jornal A Tribuna. 


Confira a íntegra da 'live' no Facebook do Grupo Tribuna:



Uip, que até o início de maio coordenava o Centro de Contingência do Coronavírus no Estado, disse que os números já estão muito elevados. Porém, ele destaca que as previsões iniciais de pico em abril ou no começo de maio foram adiadas porque houve sucesso no distanciamento social. 


“Achatou, prolongou a curva. É incontestável, se conseguiu retardar, o que é importante os sistemas de saúde conseguirem se preparar. Mas estamos em um momento ascendente e vamos chegar no alto em algumas semanas”, diz o infectologista.  


Caseiro ressaltou que a contaminação vem aumentando na Baixada Santista, mais rapidamente em cidade que flexibilizaram a o funcionamento de atividades, como Guarujá e São Vicente. “Estamos em fase de aumento da epidemia, com pico talvez em duas, três semanas. Não é momento de afrouxar o isolamento”. 


Lockdown está nas pautas 


Para os infectologistas, a discussão hoje está mais para lockdown do que para reabertura da economia, principalmente para os locais mais afetados, como, atualmente, a capital. Mas eles acreditam que implantar esse bloqueio total obrigatório é muito difícil.  


“Talvez tenhamos que usar sim em alguns locais. É terrível para o comerciante, o autônomo, os ambulantes, quem depende do seu trabalho. Mas não temos vacina ou tratamento que funcione. O que temos é o distanciamento social. Se tivéssemos feito de maneira totalmente efetiva, quebraríamos a cadeia de transmissão”, aponta Caseiro.   


Para Uip, o lockdown está na pauta de todos no mundo, mas é preciso analisar a efetividade em cada município. “Numa cidade do tamanho de São Paulo, como seria? E tem a região metropolitana toda. Como será feito? É efetivo? Tem forças de segurança para controlar tudo isso? Tem que ser muito bem elaborado”. 


Claudino Guerra Zenaide conta que, como dirigente da Unimed, está vendo os dois ângulos do problema. “Sou médico, mas penso também no lado econômico quando falamos de lockdown. Existem pessoas com atividade zerada, a sobrevida será difícil. Mas também não temos capacidade de atendimento se explodir (o número de casos de coronavírus)”, pondera.  


Uso da cloroquina 


Uip e Caseiro ressaltaram que ainda não existe comprovação de que a cloroquina funciona. Além disse, o remédio tem efeitos colaterais cardíacos, hepáticos e visuais. “Todos os estudos mostram que não funciona. A Medicina é baseada em evidencias. Não existe isso de um presidente, capitã, dizer olha a cloroquina funciona. Opinião pessoal não vale em Medicina”, afirma Caseiro.  


Enquanto nenhum remédio se mostrou efetivo, algumas vacinas já têm bons resultados em estes iniciais. O uso em larga escala, porém, deve ficar par ao ano que vem. “Temos 110 vacinas em testes, oito na fase clínica, com bons resultados em um pequeno grupo de pacientes. Mas existem respostas que vão demorar. Os anticorpos da vacina têm quanto tempo de validade?”, questiona Uip.  


Para os três médicos, a saúde pública sairá mais forte dessa pandemia e será olhada de forma diferente. “Estamos tão preocupados porque não o SUS (Sistema Único de Saúde) não tem capacidade, não foi preparado. Acho que o SUS ganhará outra cara, outra importância”, afirma o presidente da Unimed Santos.  


“Temos um sistema invejável, sou defensor do SUS. O problema não é o sistema, mas o subfinanciamento. O sistema é bom, mas precisa ser prioridade para o País”, afirma David Uip.  


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