Pandemia da Covid-19 agrava cenário da automedicação na Baixada Santista

O medo de sair de casa para uma consulta ou a crença, sem orientação médica, em determinadas substâncias pode colocar a saúde em risco

Por: Tatiane Calixo & Da Redação &  -  27/09/20  -  13:30
  Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A pandemia da Covid-19 pode ajudar a agravar um cenário que já era preocupante: o da automedicação. O medo de sair de casa para uma consulta ou a crença, sem orientação médica, em determinadas substâncias pode colocar a saúde em risco. A ingestão de remédios sem a orientação de um profissional de saúde pode ser ineficaz, prejudicar algum tratamento e, até, provocar reações graves. A orientação é nunca tomar remédio por conta própria.




Uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), no ano passado, por meio do Instituto Datafolha, apontou que o hábito de se automedicar está presente na vida de 77% dos brasileiros que haviam feito o uso de algum remédio nos seis meses anteriores. Quase metade (47%) respondeu que se automedicava pelo menos uma vez por mês, e um quarto (25%) o fazia todo dia ou pelo menos uma vez por semana.



Dose


O estudo detectou, ainda, uma modalidade diferente de automedicação, a partir de medicamentos prescritos. Nesse caso, a pessoa passou pelo profissional da saúde, recebeu um diagnóstico, a receita médica, mas não usa o remédio conforme orientado, alterando a dose indicada. Esse comportamento foi relatado pela maioria dos entrevistados (57%), especialmentehomens (60%) e jovens de 16 a 24 anos (69%).


Para a farmacêutica e delegada regional da seccional de Santos do Conselho Regional de Farmácia do Estado, Roseli Simões Barreto, a automedicação, no Brasil, está muito relacionada a pesquisas na internet em fontes nem sempre seguras e também da indisponibilidade ou demora no atendimento público, apesar de todos os avanços e da importância do Sistema Único de Saúde (SUS).


Pandemia


"Agora, a pandemia traz outros fatores: o medo e a propaganda de alguns medicamentos feita, inclusive, por autoridades governamentais”, afirma a farmacêutica. Segundo ela, o aumento nas vendas foi expressivo em dois medicamentos, principalmente, indicando a possibilidade de automedicação. A hidroxicloroquina e o ácido ascórbico (vitaminna C), com 67,93% e 180%, respectivamente.


Albermar Harrigan, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e professor de Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (Emescam), explica que o risco de as pessoas se automedicarem está no fato de elas não conhecerem os mecanismos de ação dos medicamentos.


“Um remédio pode ter uma eficácia para uma certa pessoa e para outras não. Às vezes, são pessoas portadoras de outras patologias em que há contraindicações no uso da medicação. Então, é um risco muito grande a automedicação sem orientação de um profissional. Principalmente, por riscos de complicações e efeitos indesejáveis que podem acontecer”, detalha.


Para pessoas que fazem uso de medicação contínua por causa de alguma doença, o risco é ainda maior. “Essa automedicação se torna ainda mais perigosa entre as pessoas que fazem tratamento com outros medicamentos, como no caso de pessoas portadoras de diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e medicamentos controlados antidepressivos. São medicamentos muito específicos, e a coexistência de outros, sem orientação médica, traz um risco grande dos mais variados efeitos colaterais”.

Assim, tanto Harrigan quanto Roseli alertam para a importância de se procurar um profissional de saúde para avaliar cada caso, relatar o que se sente e os remédios que já toma, além de seguir à risca o prazo e a dose dos medicamentos receitados.


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