Com tecnologia a um clique e as crianças com acesso a ela cada vez mais cedo, brincar de se mexer e exercitar-se ficou ultrapassado. O problema é que, hoje, 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos têm obesidade, segundo o Ministério da Saúde. Isso quer dizer que tem chegado muito mais cedo a conta de uma vida sem atividade física e alimentação saudável.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que, em 2025, 2,3 bilhões de adultos do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões com obesidade. No Brasil, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, aumentou em quase 70% o número de obesos nos últimos 13 anos.
Para o especialista em cirurgia do aparelho digestivo e cirurgião bariátrico Joaquim Alves Guimarães Neto, a obesidade está mais presente na juventude e boa parte acabará como adultos obesos.
“É um problema de saúde pública. São vários fatores que determinam que uma pessoa seja obesa, como a genética. A criança também não tem autonomia para preparar o próprio alimento. Essa situação do aumento da obesidade infantil é um reflexo dos pais, de hábitos alimentares que adquirimos ao longo da vida”.
Joaquim explica que temos cada vez mais acesso a uma quantidade de alimentos muito mais calóricos e com menos nutrição.
“O acesso a vida ao ar livre também está limitado para os jovens, ou seja, eles fazem menos exercícios. A soma de tudo isso resulta em obesidade”.
Um fator grave, segundo o cirurgião bariátrico, é que a obesidade nunca passa desapercebida no organismo.
“O coração é uma bomba que tem a função de fazer o sangue chegar no corpo todo. Se compararmos uma pessoa normal a alguém obeso, o coração dessa segunda precisa de um esforço muito maior para fazer o sangue chegar numa área distante. O sofrimento é muito mais intenso”, explica Joaquim.
Em tempos de pandemia, estar com a saúde em ordem é fundamental, explica o especialista, já que principalmente os pulmões são exigidos neste momento.
“Existem vários tipos de obesidade. A gordura abdominal é ainda pior do que a distribuída pelo corpo, pois acomete mais órgãos e de forma muito mais séria".
Alimentação
A nutricionista Camilla Simões explica que a rotina corrida dos pais e a facilidade de comidas prontas e congeladas são fatores que contribuem para o aumento da obesidade infantil.
“As bolachas ficaram mais acessíveis e o doce virou moeda de troca. O refrigerante já faz parte das compras e não aparece só na festa. As crianças ainda trocaram as brincadeiras na rua pelo vídeo-game”.
Além dos vilões cachorro-quente, hambúrguer, pizza e fast food, o suco pronto também tem muito açúcar e as crianças bebem menos água.
“Isso tudo tem a ver com a cultura da família e o exemplo dos pais. É preciso mostrar as cores dos alimentos, explicar o motivo deles serem tão importantes e elogiar ao comer algo saudável, falando que está muito gostoso”, diz Camilla.
A nutricionista diz que é contra obrigar a criança a comer e que tudo é uma questão de dar uma chance para a mudança saudável. “Desse jeito, ela não vai criar gosto pela comida. Os pais também precisam ter mais paciência, pois alguns dias são mais difíceis mesmo. Tudo exige empenho, dedicação e atenção”.
Mexa-se!
Para o personal trainer Neto Silva, não tem idade específica para se jogar numa atividade física. Ao começar a engatinhar, o bebê já começa a se exercitar e o ideal é que não pare mais.
“É preciso pensar em algo que a criança tenha interesse, para que ela possa ir gostando cada vez mais e cresça com esse hábito incorporado. Mas o treinamento deve ser específico para cada idade e para cada aluno”, explica Neto.
O ideal é se mexer por, no mínimo, 1h por dia. E ao menos três vezes na semana, recomenda o personal.
“Em tempos de pandemia, jogar bola, brincar de carrinho no chão e até estipular desafios como agachamentos para quem perde em algum jogo em família são maneiras de fazer uma atividade com os filhos. Além do exercício, é um tempo juntos”.
Neto alerta que é fundamental os pais identificarem cedo se a criança está a um passo da obesidade.
“Um sinal é não gostar de fazer atividade física, só querer ficar sentada. Isso é estar sedentária. Notar uma barriguinha também é importante”.
Entre as dicas que o personal dá no Instagram @personalnetosilva, está a que “nunca é tarde demais pra começar uma atividade”.
“Só é preciso respeitar os limites para não se machucar, ainda mais no casos das crianças, que estão em fase de desenvolvimento. A pandemia trouxe esse cuidado das pessoas quererem se cuidar mais e isso é bastante positivo”.