Minimalismo: Menos pode ser mais para ser feliz

Muita gente vem descobrindo que o consumismo não garante uma vida completa

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  14/07/19  -  00:40

Primeiro, você descobre que seu guarda-roupas está abarrotado de peças das quais você nem lembrava. Depois, que sua cozinha tem coisas demais. É possível que se lembre, então, de gastos com itens que você não precisava, oque lhe deixou sem dinheiro para o passeio que gosta de fazer aos fins de semana. Se continuar colocando tudo isso na balança, pode chegar à conclusão de que, apesar do dia completamente cheio, tem feito pouco daquilo que realmente lhe faz feliz.


Ser consumidor exige atençDão. Os apelos para comprarmos e termos cada vez mais estão por toda parte. Como não se interessar por qualquer coisa que termine com 99 centavos e estampe as letras O,F,E, R,T e A, nesta ordem? Mas, na contramão disso, há um movimento que clama por menos. Apenas o necessário. O minimalismo. “A expressão minimalismo está relacionada a movimentos estéticos, científicos e culturais da década de 1950, em Nova York, que defendiam o mínimo de recursos em produções artísticas, na busca do que era essencial”, explica a professora Juliana Nóbrega, doutora em Filosofia pela Unicamp, professora da Unimes e coordenadora dos cursos de Filosofia e Teologia EaD da instituição. 


Não demorou para que houvesse uma releitura do movimento para o aspecto social: buscar o essencial para viver melhor consigo e com o planeta.“Avida simples é a escolha de se desfazer do excesso, principalmente no que diz respeito ao consumo. Seria hoje aquele que, mesmo tendo condições econômicas para acumular bens e produtos, escolhe por diminuir a quantidade de coisas que possui”,detalha Juliana. E aí, é o desenrolar de um novelo, porque a diminuição da necessidade de ganhar mais dinheiro se traduz em trabalhar menos e isso pode significar termais tempo vago para aproveitar mais do que gosta. E neste aspecto é o coração de cada um que fala, seja ficar com a família, com os amigos, passear, ler, ou viajar. Ser mais humano".

Noção da importância


O ex-publicitário Ryan Nicodemos conta no documentário Minimalism que, perto dos 30 anos, tinha tudo o que a sociedade dizia que ele deveria ter. Ainda assim, carregava um vazio dentro de si, que ia tentando preencher comprando cada vez mais. “Eu estava vivendo por um salário, vivendo por coisas, mas não estava vivendo de fato. Chegou uma hora que eu não sabia mais o que era importante”. De acordo com Juliana, diversos autores contemporâneos apontam para a questão do consumo como um elemento que desconstitui o ser humano, tirando dele características essenciais de sua humanidade.


“Zygmunt Bauman, que faleceu agora em 2017, conhecido pelos seus livros sobre a sociedade líquida, em sua obra Vida para Consumo: a Transformação das Pessoas em Mercadoria, alerta para a necessidade de os membros da sociedade atual passarem de consumidores a mercadorias de consumo para se sentirem membros autênticos da sociedade”.


Assim,a postura minimalista tenta fugir desse cenário, buscando o sujeito por trás das notas fiscais. O arquiteto e urbanista Raphael Salgado conta que tinha objetivos práticos ao escolher viver com menos. Minimizar gastos e otimizar tempo. Com o passar dos anos, a questão ambiental também entrou em pauta. “Então, para isso, procurei ter o mínimo de objetos e bens possíveis e ter somente aquilo que pudesse me satisfazer pessoal e profissionalmente”,conta. As decisões se refletiram em mudanças. Raphael conseguiu mais tempo e a grana que sobrava, conseguia investir no que achava importante.


“Com certeza minha vida passou a ser menos estressante e mais feliz". 


Importante é saber o que se acha essencial


Para a doutora em Filosofia Juliana Nóbrega, o importante no processo de se desfazer dos excessos é entender o que é essencial. E não há uma receitado que se deve considerar importante ou como encontrar o que é importante. É uma reflexão íntima e pessoal. O artista plástico Diego Silva entendeu que adaptar sua vida pessoal com os ideais e propósitos do próprio trabalho era a saída. Ele trabalha com materiais reciclados e passou ele mesmo a confeccionar as próprias roupas. “Fazendo minhas roupas, eu sei como é o processo de produção e também consigo reutilizar tecidos”.


 Mudança sem mudanças


 A barista Tayuan Rebelo Papa se viu diante de um dia lema quando se mudou para os Estados Unidos: a bagagem. Ela teve que vender e doar boa parte dos pertences e, já em terras norte americanas, fez um pacto com o marido de que iriam comprar menos e não acumular tanto. “Por exemplo, somos nós dois aqui em casa, então não precisamos de mais do que quatro toalhas de banho. Duas no uso, duas lavando”, conta. O mesmo serve para os lençóis,copos e outras coisas da casa. Com menos peças e enfeites, Tayuan garante que perde menos tempo limpando a casa.


“Temos espaço sobrando no closet e nas gavetas, Então, é mais fácil achar. Mas como não queremos ter muita coisa, sempre optamos por comprar peças boas, que durem bastante”, afirma. “Quando era criança, tudo era escasso, contado. Quando passei a ter meu dinheiro, comecei a comprar muito. Só na mudança eu tive noção e me perguntei: pra quê tanta coisa?
 


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