Música: além da arte, contribui para a saúde

Musicoterapia surgiu no final dos anos 1940, quando ex-combatentes tiveram melhora ao serem submetidos a terapias sonoras

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  15/06/19  -  22:29
Para Lipe Araújo defende restabelecer pela música o que chama de “estado de presença”
Para Lipe Araújo defende restabelecer pela música o que chama de “estado de presença”   Foto: Divulgação

O coração dá uma acelerada e, por um instante, um sentimento de euforia toma conta. Ou, os olhos se enchem de lágrimas, após uma lembrança ser ativada. Certamente, a maioria das pessoas já passou por isso pelo menos uma vez ao ouvir música – o mais provável é que tenham sido inúmeras.Não se sabe ao certo como e porque ela foi conquistando espaço na vida do ser humano. O fato é que hoje, música é entretenimento, trabalho, descanso e até mesmo processo terapêutico. Uma ferramenta poderosa que ajuda a viver melhor.


Individualmente, as pessoas identificam que determinadas playlists conseguem deixar o dia melhor e outras são perfeitas para curtir aquela fossa. No entanto, a música também pode servir a um processo estruturado e clínico de tratamento, a chamada musicoterapia, que é capaz de ajudar a tratar e prevenir diversas patologias.


De acordo com Maristela Smith, coordenadora do setor de Musicoterapia do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas (IMRea), a musicoterapia é uma ciência que passou a ser desenvolvida a partir do final dos anos de 1940, ao constatar-se que ex-combatentes de guerra que desenvolveram traumas apresentaram melhora após serem submetidos a tratamentos com médicos e músicos.


“Uma melhora considerável foi verificada. Por isso, decidiu-se investir em estudos e formação de profissionais. A musicoterapia junta medicina e música, utilizando elementos sonoros para tratar”, explica Maristela.


E como o que entra pelos nossos ouvidos é capaz de influenciar tanto na parte psicológica quanto motora, os benefícios do tratamento abrangem diversas áreas. A musicoterapeuta afirma que o tratamento da maioria das patologias com distúrbios de comunicação têm resultados positivos com a terapia. “São casos em que o paciente não consegue aprender, memorizar, se organizar ou planejar. Os casos são analisados individualmente e então um plano é traçado”.


Mariestela garante que em tratamentos multidisciplinares em casos de transtorno de espectro autista, a musicoterapia tem resultados consistentes na melhora da comunicação.


“A musicoterapia não é uma atividade lúdica. é um processo de reabilitação e tratamento. Por isso, cada histórico é analisado para que seja definido que tipo de tratamento será feito”, detalha Juliana Duarte Carvalho, musicoterapeuta e psicóloga clínica, do Hospital Sírio-Libanês.


A escolha passa pelos instrumentos, que vão desde os conhecidos violão, piano ou harpa, a outros menos conhecidos. Depois de se estudar o caso de cada paciente e também seu histórico sonoro, Juliana explica que se analisa ainda qual a melhor forma de se conduzir a terapia. Ela pode ser de forma receptiva, quando o paciente irá trabalhar a escuta ou interativa, na qual ele toca e manuseia os instrumentos musicais.


Essa análise do terapeuta é importante porque cada paciente tem uma relação diferente com os sons, assim como acontece com o próprio gosto musical.


“Aquele ritmo marcado do Bolero de Ravel traz uma repetição, assim como os tambores xamâni-cos, que na maioria das pessoas causa torpor. Assim como o barulho de água acalma muita gente. Mas não podemos generalizar. Tive uma paciente que tinha problemas com barulho de água”, conta Maristela. Um namorado dela havia se afogado e o registro sonoro da paciente eram as ondas batendo nas pedras. “O cérebro absorve vibrações e sonoridades que chegam ao hipocampo, a sede da memória e numa sessão de musicoterapia isso pode vir à tona. Por isso a importância de um profissional”.


Higienização auditiva


Segundo as especialistas, em casos doenças ou transtornos, buscar a musicoterapia pode ajudar no tratamento. Mas no dia a dia, é importante saber o que ouvir. “Vivemos em meio à poluição sonora e como cuidamos do corpo, é importante cuidar do que está dentro da gente”, avalia Maristela.


Lipe Araújo é músico e autor do projeto Música Vibracional e busca essa higienização no dia a dia. “De forma geral vivemos sob muita pressão social e tudo isso nos tira do estado de presença. No estado de presença, nós contemplamos a nós mesmos e somente o que está acontecendo no presente. Esse estado equilibra a nossa frequência cardíaca, acalma a nossa mente e, logo podemos experimentar relaxamento, contentamento, alegria e bem estar”.


Segundo ele, a música pode auxiliar nesse sentido. Assim, é importante perceber como reagimos a determinados sons, o que a música nos provoca, além do entretenimento.


“O trabalho que faço com a música é voltado para o bem-estar, através de instrumentos ancestrais, vindos de etnias diversas, os quais têm alto poder de proporcionar relaxamento. Isso pode ajudar a melhorar a nossa intuição, criatividade e nos conectar com nósmesmos”.


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