Idosos seguem como maiores vítimas da covid-19, mas jovens estão com mais complicações

No Estado, as pessoas de 30 a 50 anos sem doença prévia já são a maioria dos internados e ficam na UTI por mais tempo

Por: Nathália de Alcantara  -  05/03/21  -  20:37
Centro de Contingência da Covid-19 já sinalizou que irá sugerir medidas mais restritivas
Centro de Contingência da Covid-19 já sinalizou que irá sugerir medidas mais restritivas   Foto: Matheus Tagé/AT

Após quase um ano de pandemia, os idosos seguem como maiores vítimas da covid-19 na região e lideram os números de internados, segundo infectologistas e secretários de Saúde da região. Contudo, nos últimos meses, subiu o volume de jovens que chegam aos hospitais com complicações. Não há dados regionais, mas no Estado as pessoas de 30 a 50 anos sem doença prévia já são a maioria dos internados e ficam na UTI por mais tempo, de acordo com o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn.


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Em coletiva de imprensa, na segunda-feira, ele destacou que o aspecto clínico atual dos pacientes é diferente do visto na primeira onda da doença. Antes, eram idosos e portadores de doenças crônicas.


Hoje, é de 60% de mais jovens, na faixa de 30 a 50 anos, sem doença prévia. E o tempo que estão ficando na UTI é maior. Tínhamos antes uma média de sete a dez dias de internação, agora ela varia de 14 a 17 dias em UTI. Acham que só vão perder o paladar e o olfato, mas acabam perdendo a vida”.


Na Baixada, a Prefeitura de Guarujá observa desde o final de 2020 uma mudança no perfil dos pacientes acometidos por formas mais graves da doença. Os mais idosos não são os únicos que têm precisado de internações ou até procedimentos invasivos para viver.


Pacientes jovens estão sendo contaminados, evoluindo para quadros piores e utilizado os leitos por mais tempo até que se recuperem. No entanto, a taxa de óbitos ainda é maior acima dos 60 anos.


“Chama atenção essa mudança no perfil dos pacientes não apenas contaminados, mas que também evoluem para quadros que necessitam de internação. Ainda não há explicação clara que mostre como e por que os mais jovens têm evoluído para formas mais graves, e é por isso que os cuidados diários para evitar a disseminação do vírus devem ser intensificados”, explica o secretário de Saúde de Guarujá, Vitor Hugo Canasiro.


Quem observa esse cenário todos os dias no contato direto com pacientes é o infectologista Marcos Caseiro.


"Os jovens têm se contaminado mais e, na minha opinião, isso tem a ver com a exposição. Eles saem como se não houvesse mais pandemia, respeitado cada vez menos as regras. Isso pode ser observado nos números. O detalhe é que os idosos é que sempre terão mais complicações por conta das comorbidades".


A preocupação do também infectologista Eduardo Santos é que os idosos são infectados por quem sai de casa.


"Principalmente por conta da vacinação, os mais velhos estão ficando dentro de casa, aguardando a vacina, apesar de não aguentarem mais essa situação. O assustador é o jovem que sai e ainda leva a doença para casa".


O diretor técnico da Beneficência Portuguesa, Mario Cardoso, é outro que observa a presença de pacientes mais jovens no hospital.


"Não é uma mudança radical, pois continuamos tendo pacientes idosos. Mas, na comparação do total de pacientes que nos procuravam no primeiro surto, é algo bem maior. Acredito que isso esteja ligado à descrença no isolamento social e à manutenção da frequência em bares e baladas. Só não entendo como alguém não acredita em algo que está na cara de todos".


Idosos


Já em Santos, o secretário municipal de Saúde, Adriano Catapreta, afirma não haver mudança de perfil na maioria dos pacientes com covid-19. “A média de idade dos internados se mantém acima dos 60 anos, comparando o cenário atual com 40 dias atrás. Esse é o perfil comum. O índice de letalidade nessa faixa etária, inclusive, é o maior da doença”.


Na Santa Casa de Santos, segundo o diretor médico Rogério Dedivitis, os idosos também seguem sendo a maioria das internações, apesar de terem casos de pacientes mais jovens. "Os mais graves são predominantemente idosos, porque são pessoas com comorbidades. Hoje, realizamos mais de 500 atendimentos por dia, sendo 110 de covid-19 e 30 de dengue".


Diante desse cenário, a Santa Casa refinou os critérios de triagem, já que um paciente acaba tendo suspeita de dengue e covid-19. "Refinamos os criterios de avaliação inicial dos pacientes. Temos de quatro a 12 internações por dia, com uma ocupação de 65 pacientes, em média".


Em São Vicente, este ano, os grupos de pessoas entre 60 e 69 anos e de 70 a 79 anos apresentam o maior número de internações por covid-19, com quatro idosos cada. Em seguida, vem o grupo de 50 a 59 anos, com três internações.


"A Cidade está conseguindo manter um número baixo de internações, com maior evidência de casos em pessoas de mais idade. É importante a conscientização da população neste momento em que várias cidades do Estado apresentam uma explosão de casos e internações. Apesar da vacina dar um certo conforto, não podemos relaxar. Todos devem manter o distanciamento social, evitar aglomerações e não deixar de usar máscara”, reforça a diretora de Vigilância em Saúde de São Vicente, Luciana Schiavetti.


Outras cidades


No Litoral Sul, Itanhaém mantém o perfil de agravamento e complicações dos pacientes portadores de doenças crônicas. Mesmo assim, os mais idosos seguem como maiores vítimas e o tempo de permanência hospitalar está associado às necessidades clínicas, conforme destaca o secretário municipal de Saúde, Fabio Crivellari Miranda.


Em Peruíbe, também não houve mudança no perfil. Dentre os casos confirmados em 2021, 4,2% necessitam de internação.


"Hoje, 80% dos internados estão acima de 50 anos, 53,3% são homens e 65% têm alguma comorbidade, em especial doenças cardiovasculares", explica a médica responsável técnica do Serviço Municipal de Vigilância Epidemiológica na Cidade, Renata Sakiyama.


O perfil dos pacientes de Mongaguá concentra-se em adultos de 30 anos em diante. Os casos não são graves e mantêm a semelhança de sintomas: síndrome aguda. Já Cubatão diz que não é possível constatar alterações no perfil das pessoas internadas. As prefeituras de Bertioga e Praia Grande não responderam até o fechamento desta edição.


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