Exercício é ferramenta chave para auxiliar na superação

Prática é recomendada não só para ter uma vida mais saudável, mas também na recuperação de males como depressão e AVC

Por: Da Redação  -  28/07/19  -  01:15
Vilas Boas: entre um aparelho e outro, depressão vai ficando para trás
Vilas Boas: entre um aparelho e outro, depressão vai ficando para trás   Foto: Irandy Ribas/AT

“Eu estava num momento muito difícil. Antes, eu era muito ativo, participava de esportes, fazia muita coisa. E, de repente, eu me via ali trancado no apartamento, em depressão. Um dia, decidi fazer alguma coisa, caminhar, mas não tinha motivação”, conta Marcelo Vilas Boas, de 52 anos, que passou por um período sombrio em sua vida depois que perdeu a visão do olho esquerdo e só conseguiu retomar a alegria de viver depois que deixou a atividade física voltar a fazer parte de sua rotina.


Mas não foi um processo fácil ou mágico. Para vencer os medos, ele precisou de ajuda deprofissionais e o primeiro passo para sair de casa foi encontrar acolhimento no local que escolheu para fazer as atividades.


“O que contou muito foi a recepção. No início, me sentia um lixo, um acabado. Mas essa sensação foi melhorando. A atividade física vai te melhorando. O meu objetivo quando entrei era voltar a surfar e fui muito incentivado. Hoje, paralelo à academia, faço escolinha de surfe com o Cisco Araña e tudo mudou”, conta.


Vilas Boas sabe que ainda tem um caminho longo pela frente para se curar da depressão, mas sente que a atividade física e o apoio dos colegas da academia são um suporte importante para a superação. 


“Hoje, quando estava para vir para cá para dar o meu depoimento, comecei a ter uma crise e pensei que não conseguiria. Vim e na hora que entrei na sala falei para o professor o que estava sentindo, ele me acalmou com exercícios de respiração e eu estou ótimo agora. Não precisei tomar remédio e vou para a casa cansado e feliz. Se hoje eu estou fazendo coisas, eu tenho que agradecer à atividade física”, avalia.


Realização de sonho


O psicólogo Zurval José de Oliveira, de 52 anos, também tinha uma vida atribulada de trabalho e teve de repensá-la depois de sofrer um acidente vascular encefálico, em 2016, que paralisou metade de seu corpo.


“É um giro na cabeça da gente. Mesmo eu sendo psicólogo, foi muito difícil lidar com isso. Eu era uma pessoa que ia à Europa uma vez por ano e, de repente, nem na minha casa eu conseguia botar a minha roupa”, lembra.


Depois de um ano de reabilitação em um hospital de Santos, ele encontrou na atividade física o ponto de mudança do seu destino. Foram dois anos de exercícios personalizados para que ele atingisse a meta de caminhar.


“E não é apenas o andar: é melhorar a autoestima. Isso acontece só pelo fato da pessoa sair de casa. Ela chega num lugar onde encontra outras pessoas que talvez tenham problemas semelhantes ao dela, que se identificam e se ajudam. Isso é muito importante”.


O educador físico Danilo Garcia, que deu o suporte para Vilas Boas e Oliveira, acredita que engrenar uma atividade é sempre o mais difícil para quem tem limitações ou sofre com depressão.


“A gente pode curar qualquer depressão, desde que essa pessoa faça disciplinadamente um pouco de atividade física. E para dar esse passo, a pessoa tem que encontrar um objetivo maior e descobrir o porquê quer isso”, afirma.


Redução de remédios   


A fisioterapeuta e educadora física Andréia Salvador afirma que uma atividade com intensidade moderada, realizada diariamente por 30 minutos, como caminhada, reduz em 34% o uso de medicações em idosos. “Isso melhora a saúde de um modo geral e reflete na pressão arterial, no diabetes e até na depressão”.


A depressão está ligada à queda da produção da serotonina, um neurotransmissor, conhecido como hormônio da felicidade, que proporciona a sensação de bem-estar e bom humor. Os exercícios aumentam a fabricação da substância, que é a mesma encontrada no vinho e no chocolate. 


“Acaba funcionando como uma droga. A pessoa começa a fazer atividade, aumenta a serotonina e começa a se sentir bem. Quando ela percebe esse efeito, quer fazer mais”, afirma Andréia.


Além da questão de saúde, ela lembra da importância da socialização, que a prática esportiva permite, principalmente para idosos. “Se antes eles se sentiam sozinhos, a partir da atividade, eles começam a formar grupos, viram amigos. Acabam até se vigiando, pois, caso algum falte na atividade, eles vão atrás para saber o que houve”, destaca a educadora física.


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