Estudo com 96 mil pacientes não vê benefícios de cloroquina contra Covid-19

Uma das mais amplas pesquisas já feitas com o uso da substância detecta risco de arritmia cardíaca; publicação consta na revista 'The Lancet', desta sexta-feira (22)

Por: Por ATribuna.com.br  -  22/05/20  -  17:20
Atualizado em 22/05/20 - 17:46
Perda de visão periférica e arritmia cardíaca estão entre os relatos de efeitos colaterais
Perda de visão periférica e arritmia cardíaca estão entre os relatos de efeitos colaterais   Foto: LUCAS LACAZ RUIZ/ESTADÃO CONTEÚDO

Uma pesquisa científica feita com mais de 96 mil pacientes indica nulos benefícios da hidroxicloroquina e a cloroquina no combate à Covid-19. As evidências publicadas na renomada revista "The Lancet" sustentam que não há melhora na recuperação dos infectados que usam essas substâncias.  Os resultados, divulgados nesta sexta-feira (22), mostram ainda risco maior de morte e piora no coração durante a hospitalização pelo Sars CoV-2. 


A publicação acompanhou a evolução do quadro clínico de 96.032 pacientes internados por complicações do novo coronavírus. Os voluntários tinham idade média de 53,8 anos, sendo que 46,3% da amostragem eram mulheres. O mapeamento analisou internados em 671 hospitais em seus continentes. 


Conforme a metodologia, 14.888 pacientes receberam quatro tipos de tratamento diferentes com a cloroquina e a hidroxicloroquina, no período de 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril de 2020. 


Segundo os autores, os pacientes medicados com as substâncias, incluindo em combinações com outros medicamentos aprovados, apresentaram um risco maior de morte hospitalar e de desenvolvimento de arritmia cardíaca.   


“Este é o primeiro estudo em larga escala a encontrar evidências robustas estatisticamente de que o tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina não traz benefícios a pacientes com Covid-19", afirma o autor Mandeep Mehra, líder da pesquisa e diretor do Brigham and Women's Hospital Center for Advanced Heart Desease, em Boston, nos Estados Unidos. 


Outros estudos internacionais também não encontraram eficácia no remédio e a Sociedade Brasileira de Infectologia não recomenda o uso. 


No Brasil  


A conclusão do estudo ocorre no momento em que o Brasil adota protocolo para o uso da substância. Na quarta-feira (20), o Ministério da Saúde do Brasil divulgou um documento que orienta a dosagem da hidroxicloroquina em pacientes infectados pelo Sars CoV-2.  


Nesta quinta-feira (21), uma nova versão foi editada com a assinatura de secretários da saúde da pasta. A mudança no protocolo era uma vontade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), defensor dessa substância no tratamento da doença causada pela Covid-19.   


O protocolo da cloroquina foi motivo de atrito entre Bolsonaro e os últimos dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Em menos de um mês, os dois deixaram o governo.  


O texto do ministério mantém a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e de o médico decidir sobre a aplicar ou não o remédio. A cloroquina não está disponível para a população em geral. 


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