Especialistas listam cuidados para prevenir e evitar a proliferação da doença do pombo

Segundo infectologistas, não é preciso ter pânico, mas as autoridades devem acender um sinal de alerta

Por: Nathália de Alcantara & Da Redação &  -  09/08/19  -  14:06
Doença já matou duas pessoas em menos de um mês, em Santos
Doença já matou duas pessoas em menos de um mês, em Santos   Foto: Carlos Nogueira/ AT

Cuidados no dia a dia ajudam a evitar a proliferação do pombo e a doença causada pelo animal, que já matou duas pessoas em menos de um mês, em Santos. Segundo especialistas ouvidos por A Tribuna, não há motivo para pânico, mas as autoridades devem acender um sinal de alerta.  


Para o infectologista e professor Ricardo Hayden, é preciso limpar as caixas de ar-condicionado e montar redes de proteção para que eles não se instalem ou criem ninhos. 


Outra ação importante, de acordo com ele, seria estabelecer uma legislação para impedir a proliferação de pombos, com regras que evitem maus-tratos. “Por mais cuidado e limpeza que se tenha no Porto, ainda há a soja e outros farelos que vão caindo no caminho, durante seu transporte”. 


Raridade 


Para o infectologista do Hospital Albert Einstein, Jacyr Pasternak, a doença do pombo é rara. “O médico primeiro pensa em coisas comuns e depois na exceção. Ela é mais comum em quem tem HIV não controlado, é transplantado ou usa drogas que mexem com a imunidade, mas podemos ver com esses casos que atinge outras pessoas”. 


Segundo ele, o fungo entra na corrente sanguínea e pode se instalar em qualquer lugar do corpo. Em alguns deles, o diagnóstico fica ainda mais difícil. 


“Cada caso é um caso e a doença se manifesta diferente. Esses dois episódios devem acender a luz de alerta das autoridades. É preciso fazer uma investigação para descobrir as situações que envolveram essas mortes”, diz Pasternak. 


O infectologista Evaldo Stanislau explica que as chances de cura são altas, desde que o paciente seja tratado adequadamente. Mas, de tempos em tempos, essas pessoas devem procurar um infectologista para acompanhamento. 


A doença 


A criptococose, como é conhecida a doença, é causada por fungos que induzem uma síndrome inflamatória sistêmica ou localizada. Os sintomas são os de pneumonia e meningite. 


“Essas inflamações causam disfunções, edema cerebral e comprometimento respiratório. O corpo briga para segurar essa inflamação e tudo depende de onde o fungo se instala”, explica Stanislau. 


Para ele, não há razão para alarde, mas também ajuda manter bons hábitos de higiene, como lavar sempre as mãos, alimentar-se adequadamente e fazer atividade física com frequência. 


A chefe do Departamento de Vigilância em Saúde de Santos, Ana Paula Valeiras, pede o apoio da população no combate à doença.  


“Contamos com o apoio da população para dar mais visibilidade ao trabalho educativo, de forma a reduzir ou eliminar a reprodução dos pombos em meio urbano”. 


Cuidados 


O veterinário da Seção de Vigilância e Controle de Zoonoses de Santos (Sevicoz), Laerte Carvalho, diz que limpar as fezes dos pombos requer cuidados, já que os fungos presentes nelas não podem entrar nas vias aéreas das pessoas. 


“Para evitar o contágio, basta lavar o local com água clorada e jamais varrer ou usar pano seco. Pode-se ainda proteger o nariz com algum pano ou lenço”. 


Segundo o técnico especialista em controle de pragas da Dedetizadora na Praia, Marcelo Moreira, só ontem foram feitos seis chamados para cuidar de situações envolvendo pombos.  


“No mês, são cerca de 40 atendimentos. O técnico vai ao local e faz uma vistoria. Como tem uma portaria que protege o pombo, ele não pode ser morto”. 


Então, a saída é fazer com que o animal pare de frequentar aquele local com fechamento com tela ou barreira para ele não pouse, 


“Temos ainda limpeza e desbacterização. O animal leva para o ninho muitas coisas que não come, o que faz juntar outros insetos”. 


Cinco vezes mais aves em 20 anos de pesquisa 


Estudioso de pombos há 19 anos, o veterinário Eduardo Filetti diz que a população desses animais cresceu de 50 mil em 2000 para 250 mil este ano, em Santos. “Hoje, eles também comem iogurte, fast food, feijão, arroz e tudo o que damos para eles”. 


Segundo ele, um agravante é que, em 2015, seu estudo Pesquisa do Perfil dos Pombos da Baixada Santista começou a apontar protozoários de seres humanos nas fezes dos pombos. 


“Antes, eram bactérias que não causavam problemas. O animal se aproximou muito do ser humano e passou a consumir as mesmas coisas”, explica Filetti. 


Razões 


O especialista explica ainda que quem o alimenta é responsável por 4% do aumento na população do animal. Os outros 96% vêm de grãos do Porto, alimentos expostos e arquitetura antiga, ambientes que favorecem a proliferação. 


Outro agravante é quase não ter predadores na cidade, como gavião. “Não temos uma epidemia hoje, mas é preciso controlar a reprodução do animal. Isso já é feito na Europa, onde colocam um anticoncepcional na comida dos pombos três vezes ao ano. Em oito anos, já veríamos os resultados”. 



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