Começa neste domingo (1º) o Setembro Verde, mês de conscientização pela doação de órgãos. A campanha quer promover conversas sobre o tema, pois desde 1997 é necessária autorização familiar, mesmo que antes da morte o paciente tenha deixado documentada a vontade. Um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados pode mudar essa realidade em breve.
Criado no Senado, o texto, se aprovado, fará com que a família só seja ouvida quando o potencial doador não tenha em vida manifestado sua vontade.
O tema é importante porque ao menos uma em cada três famílias do Estado hoje impede que as filas de transplantes diminuam no Brasil – São Paulo é responsável por cerca de metade dos transplantes do País.
Em 2013, 44% dos potenciais doadores não tinham órgãos aproveitados devido a negativa das famílias. O número caiu para 38% em 2015, 37% em 2016 e chegou a 36% ano passado.
Mesmo assim, o Brasil é referência mundial na área de transplantes. Possui o maior sistema público do planeta, que também inclui os procedimentos (96% são financiados pelo SUS).
Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do planeta, atrás só dos Estados Unidos. Os pacientes recebem assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.
Os desafios, segundo Carolina Pimentel, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e médica do Hospital de Transplantes Euryclides de J. Zerbini, são dois: dificilmente se pensa em transplante antes da morte e também é preciso que os médicos de todas as unidades saibam diagnosticar a morte encefálica.
“Dificilmente a família desobedece a vontade do parente se ele já falou disso antes. Mas, além dos parentes, os médicos que cuidam de pacientes graves precisam saber reconhecer os casos de morte encefálica”.
Segundo a médica, outra barreira a vencer é o da informação sobre o que é esse tipo de morte que possibilita a doação de órgão. “As pessoas precisam entender que, depois que ocorre, a morte encefálica não tem mais volta. O coração continua batendo, mas por causa dos aparelhos. A família, quando entende isso, geralmente autoriza”.
Como funciona
Em todo o Brasil, divisões ligadas à Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO) monitoram pacientes com morte encefálica. Na Baixada, o órgão é ligado à Escola Paulista de Medicina (EPM) e fica na Unifesp. É para lá que os hospitais ligam e acionam a equipe que falará com a família.
Quando a decisão pela doação é tomada, a OPO notifica a Central Estadual de Transplantes. Cada estado tem listas de espera específicas por órgão. Enquanto isso, o corpo do potencial doador fica ligado por aparelhos.
Segundo as prefeituras, Bertioga não está na rede de captação de órgãos e Mongaguá diz não ter ainda infraestrutura necessária para os procedimentos, mas discute a questão.
Sem recusa
Em Santos, desde 2017 não há recusa familiar. Este ano, até agosto, foram quatro notificações com duas doações (seis órgãos captados) e duas contraindicações. Também houve seis protocolos não concluídos devido à instabilidade dos pacientes.