Cidades da Baixada Santista têm queda em taxa de aids

Duas cidades da Baixada Santista com mais de 100 mil habitantes melhoraram suas marcas neste ano

Por: Gustavo T. de Miranda & Da Redação &  -  01/12/18  -  13:51
  Foto: Divulgação

Neste sábado (1) se celebra o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Duas cidades da Baixada Santista que figuram no ranking dos 100 municípios com mais de 100 mil habitantes onde há maiores taxas de detecção da doença, feito pelo Ministério da Saúde, melhoraram suas marcas neste ano. Guarujá, 11ª colocada no ano passado, está em 28º agora. Santos deixou de aparecer na lista: era a 63ª em 2017. Porém, ainda superam a média nacional.


As informações fazem parte do Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), federal. O ranking reúne informações como taxa de detecção, índice de mortalidade por HIV e média da carga de CD4 das cidades — que são linfócitos medidos na avaliação do estado do sistema imunológico em pessoas infectadas pelo vírus.


O documento reúne informações sobre os casos de HIV e de aids no Brasil, regiões, estados e capitais, de acordo com as informações obtidas pelos sistemas de dados usados para a sua elaboração. As fontes para a obtenção das informações são notificações compulsórias dos casos de HIV e de aids no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), registros do Sistema de Informação de Exames Laboratoriais (Siscel) e registros do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom).


Melhora e preocupação


Apesar da melhora, os índices locais não representam, necessariamente, menos preocupação. Por exemplo, a taxa de detecção de aids em Guarujá é de 25,8 casos para cada 100 mil habitantes. No ano passado, Santos teve 28,5 para cada 100 mil moradores. Os dois índices estão acima da média nacional, de 18,3.


A infecção por HIV e aids faz parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças — a aids é informada deforma obrigatória desde 1986, e o HIV, desde 2014. No Brasil, em 2017, foram diagnosticados 42.420 novos casos de HIV e 37.791 casos de aids.


Luta médica


O médico infectologista Evaldo Stanislau lembra que há 30 anos a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o primeiro Dia Mundial de Luta contra a Aids. “Muita coisa aconteceu ao longo desse tempo. Se nossa sociedade mudou em muitos aspectos, não todos, para melhor, a Ciência certamente avançou a passos largos. E a luta contra o HIV se beneficiou muito desses avanços”, diz.


De doença letal, a infecção pelo vírus passou a uma doença crônica que só se agrava quando não se fornecem diagnóstico e terapia. “Mesmo na África, tão sofrida, medicamentos modernos e acessíveis mudaram a história do HIV. Isso não significa que não restem desafios. Eles existem e não são poucos nem pequenos”.


Descuido ‘produz’ novos pacientes


“Tenho mais de um caso novo de infecção por HIV por dia útil. Todo dia, tenho caso novo. Isso é uma coisa muito preocupante”. O desabafo é de Regina Lacerda, coordenadora do Centro de Referência e Testagem de Santos, unidade que reúne a maioria dos serviços de tratamento e diagnóstico do vírus na rede municipal.


Segundo ela, há vários motivos de preocupação. Como a mortalidade por HIV teve queda brutal nos últimos anos e isso leva a descuidos, é comum que a seção “ganhe” pacientes todo ano. De janeiro a setembro, houve 87 diagnósticos. No ano passado inteiro, foram 171.
Atualmente, a Cidade acompanha o tratamento de 3.528 pessoas. Delas, apenas 1.900 fazem uso de antirretrovirais, os medicamentos que impedem a evolução da infecção para a aids.


“Há muitos pacientes, sobretudo aqueles que fazem o tratamento porque passaram pela transmissão vertical (de mãe para filho), que se cansam do medicamento. A meta seria ter todos os pacientes fazendo a terapia com o antirretroviral”, cita Regina.


A coordenadora do serviço municipal lamenta que haja pessoas estão escapando do tratamento. “Também é comum nos pacientes mais velhos. É complicado. Tenho gente aqui com 29 anos de epidemia. Essas pessoas estão envelhecendo e elas estão cada vez mais sujeitas a todos os agravos da terceira idade e aos efeitos dos antirretrovirais”, relata.


Para ela, entre as situações mais preocupantes, está a dos jovens homossexuais. “A gente tem um número significativo de jovens, com aquele padrão que está virando clássico: mais de oito anos de escolaridade e até superior completa. Esses meninos que estão chegando levam a essa preocupação. Eles já tiveram alguma informação sobre o HIV, mas não conseguem usar essa informação”.


Cantor Silvino gritou, por meio da arte, sua condição de infectado (Foto: Divulgação)


Artista canta condição de infectado


Há dois anos na estrada, lutando para fazer arte a partir do diagnóstico do vírus HIV, o cantor Silvino gritou, por meio da arte, o seu status sorológico. Passado esse período, ele afirma ter um balanço bastante positivo.


“Tenho a felicidade, nestes dois anos, de ter conhecido outros artistas, de diferentes áreas de performance, arte plástica, música, teatro, que estão abordando a vivência do HIV em seus trabalhos. Há, sim, um movimento de arte pós-coquetel”, conta o jovem, morador de São Vicente.


Hoje, ele se apresenta na Virada Cultural vicentina. “Para mim, a maior alegria é ver e encontrar outros artistas, conhecendo pessoas, vendo esses encontros de arte e afeto. Isso não tem preço. É urgente, nós existimos e somos a prova viva de que o SUS é necessário”, cita.


Em expectativa para o próximo governo, Silvino afirma ser necessário reivindicar que se mantenha o tratamento universal. “Precisamos da distribuição dos medicamentos antirretrovirais. Tive a alegria de fazer encontros do Grupo de Acolhimento das Positives da Baixada Santista. Conseguimos ter alguns encontros para discutir o serviço local e a acolhida entre pares”, comenta.


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