Câncer de próstata mata um homem a cada dois dias na Baixada Santista, diz Inca

Dados são do DataSUS; especialista aponta razões para as mortes e quais as melhores formas de prevenção

Por: Daniel Keppler  -  01/11/18  -  14:09
  Foto: Pixabay

Um homem morreu de câncer de próstata a cada dois dias na Baixada Santista, entre 2012 e 2016. Os dados, que são do DataSUS e foram obtidos por A Tribuna On-line junto ao Instituto Nacional do Câncer (Inca), revelam a letalidade do tipo de câncer que é considerado, pela entidade, o segundo mais comum entre pessoas do sexo masculino no Brasil, atrás apenas do de pele não-melanoma.


A quantidade de mortes manteve-se estável nesse período; o ano com menos óbitos foi 2013, com 124 ocorrências, e o que registrou maior quantidade foi 2014, com 161. Ao todo, foram 722 homens vitimados pela doença nos cinco anos pesquisados, ou um a cada dois dias e meio.


Analisando os dados por município, Santos foi onde mais mortes foram registradas nesses cinco anos: 241, ou 33,4% do total. Isso significa, na prática, pouco mais de um óbito por semana em decorrência da doença.


Em seguida, na região, vêm as cidades de São Vicente (119 mortes), Praia Grande (112), Guarujá (84), Peruíbe (50), Itanhaém (48), Cubatão (37), Mongaguá (21) e Bertioga (10).


Problemas


Especialista em urologia e professor universitário há mais de 35 anos, Manoel Ramos atribui a alta letalidade do câncer de próstata a dois fatores: desconhecimento da população e deficiências da cobertura do serviço público de saúde.


"A informação ainda não chega a todos como deveria. Quando chega, nem sempre o paciente tem convênio, e quando não tem nem sempre há médico no sistema público para atendê-lo de forma rápida. Por isso, o risco do atendimento só acontecer quando a doença está avançada é grande", pontua.


Segundo Ramos, a rapidez no atendimento é fundamental no tratamento do câncer de próstata. Quanto mais cedo, mais chances de cura. "Quando é detectado cedo, (as chances) chegam a 80%, pois tratamos com radioterapia, quimioterapia ou mesmo cirurgia. Mas se estiver em estágio avançado, não há muito o que fazer a não ser a tomada de medidas paliativas, de controle", afirma.


Prevenção é simples


E a melhor chance de se obter cedo um diagnóstico, segundo o urologista, é fazendo os exames preventivos: o PSA, a partir dos 40 anos, e o de toque retal, a partir dos 50.


O PSA, sigla em inglês para Prostate-Specific Antigens, é um exame de sangue onde são detectados antígenos específicos, produzidos apenas pela próstata. Já o toque retal, que é praticamente indolor e dura menos que 15 segundos, é realizado por um médico, que analisa as condições internas do reto.


Ramos, contudo, alerta: um exame não elimina o outro. "Nem todos os tipos de câncer de próstata aparecem no PSA. Então não basta fazer o exame de sangue e ignorar o de toque retal, pois corre-se um risco muito grande".


O aviso é importante, segundo ele, pois muitos homens ainda sentem receio de fazer o exame de toque. E esse medo não tem idade nem grau de instrução, pelo contrário: é geral.


"Faz parte da nossa cultura, infelizmente. Até mesmo homens cultos, que sabem que é um exame fácil, teimam em não fazer. Tenho casos de pacientes com mais de 80 anos que são quase que arrastados pelas esposas até meu consultório, e que só fazem o exame para não 'apanhar' em casa depois", brinca.


Influências positivas


Isso acontece, segundo o urologista, porque a mulher está desde cedo envolvida com medicina preventiva, e portanto sabe a importância desse tipo de consulta. "Ela vai desde adolescente ao ginecologista, faz seus exames, sua presença no médico é regular; por isso quer o mesmo do homem", alega.


Mas não é só a influência feminina que tem ajudado o público masculino a se conscientizar mais sobre o tema. Para Ramos, campanhas como o Novembro Azul têm sido fundamentais na quebra dos preconceitos sobre o assunto.


"A sociedade vai se disciplinando aos poucos, é a maior contribuição que (as campanhas) trazem. Caberia ao governo, agora, melhorar a assistência de saúde pública, para atrair a parcela de homens que ainda resistem em se prevenir, ou que não têm condições de procurar um médico na rede privada", sugere.


Como dica final para quem tem mais de 40 anos e ainda não começou a se prevenir, o urologista foi simples e direto: "Façam os exames. Quanto mais cedo descobrir, mais fácil é tratar".


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