Brasileiro de 62 anos com câncer terminal terá alta após sucesso de terapia genética pioneira

Pesquisa da USP-Fapesp criou um método 100% brasileiro para aplicar técnica CART-Cell, criada nos EUA e ainda pouco acessível

Por: De A Tribuna On-line  -  11/10/19  -  13:48
Atualizado em 11/10/19 - 13:52
Vamberto tinha linfoma e tomava morfina todo dia. Ele deve receber alta neste sábado (12)
Vamberto tinha linfoma e tomava morfina todo dia. Ele deve receber alta neste sábado (12)   Foto: Divulgação/Hugo Caldato/Hemocentro RP

Um paciente com um linfoma em fase terminal deve receber alta neste sábado (12) depois de passar um tratamento inédito na América Latina. Vamberto, um funcionário público aposentado de 62 anos, tomava morfina todos os dias, e graças a um método 100% brasileiro baseado em uma técnica de terapia genética descoberta no exterior conhecida como CART-Cell, ele deixará o hospital livre dos sintomas do câncer.  


Vamberto é mineiro, e antes de chegar ao interior de São Paulo, ele tentou quimioterapia e radioterapia, mas seu corpo não respondeu bem a nenhuma das técnicas. Em um tratamento paliativo, com dose máxima de morfina, ele deu entrada em 9 de setembro no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto com muitas dores, perda de peso e dificuldades para andar. O tumor havia se espalhado para os ossos. 


Seu prognóstico, de acordo com os médicos, era de menos de um ano de vida. Como uma última tentativa, os médicos incluíram o paciente em um "protocolo de pesquisa" e testaram a nova terapia, até então nunca aplicada no Brasil. 


Procedimento  


A CART-Cell é uma forma de terapia genética já utilizada nos Estados Unidos, Europa, China e Japão. Ela consiste na manipulação de células do sistema imunológico para combaterem as células causadoras do câncer. A estratégia da CART-Cell consiste em habilitar células de defesa do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de reconhecer o tumor. O ataque é contínuo e específico e, na maioria das vezes, basta uma única dose. 


Os pesquisadores da USP - apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) - desenvolveram um procedimento próprio de aplicação da técnica CART-Cell, que ainda é recente, está em fase de pesquisas e é pouco acessível. Nos EUA, os tratamentos comerciais já receberam aprovação e podem custar mais de U$ 475 mil. 


Os médicos e pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC-Fapesp-USP) do Hemocentro, ligado ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, apontam que o paciente está "virtualmente" livre da doença, mas ainda não falam em cura porque o diagnóstico final só pode ser dado após cinco anos de acompanhamento. Tecnicamente, os exames indicam a "remissão do câncer". 


Segundo os médicos, Vamberto respondeu bem ao tratamento e logo após quatro dias deixou de sentir as fortes dores causadas pela doença. Após uma semana, ele voltou a andar. 


O tratamento ainda não está liberado na rede pública ou privada de saúde, por isso, Cunha explicou que para o paciente ser atendido no hospital universitário, o encaminhamento foi aprovado por uma comissão de ética. 


A resposta imune progressiva pode causar febres altas, náuseas e dores musculares. Os pesquisadores não eliminam o risco de morte, e reconhecem que a forte baixa no sistema imunológico traz um potencial fatal para alguns pacientes. 


De acordo com os envolvidos na pesquisa, antes de o tratamento ser disponibilizado para o Sistema Único de Saúde (SUS), ele precisa cumprir os requisitos regulatórios da Anvisa. O chamada "estudo clínico compassivo" contínua e deverá incluir mais 10 pacientes nos próximos 6 meses. 


*Com informações do G1 


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