Banho verde lava o corpo e a alma

Estudos mostram que o contato com a natureza previne doenças físicas e mentais; bastam poucas horas semanais para ter os benefícios

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  22/06/19  -  22:07
Ecofelicidade é baseada nas teorias da Psicologia Positiva e na Ecologia Humana
Ecofelicidade é baseada nas teorias da Psicologia Positiva e na Ecologia Humana   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Rodamos de carro por estradas asfaltadas, vivemos em prédios altos e rodeados de tecnologia no que carinhosamente, ou não, chamamos de selva de pedras. No entanto, ao longo dos tempos, estudos vêm mostrando que apesar de cada vez mais pessoas viverem nas grandes cidades, ainda há uma parte do ser humano que pede por mais natureza. E isso é extremamente benéfico.


Estar, ainda que por alguns momentos, rodeado por verde, em um lugar sossegado, pode ser uma terapia preventiva ou mesmo o remédio para alguns males. Os japoneses já perceberam isso. Tanto que, no país, são famosos os chamados banhos de floresta.


“Banhos de floresta se tornaram parte da cultura japonesa e são altamente valorizados. E com o passar do tempo o bem-estar que era produzido por essa prática começou a ser estudado por cientistas que foram revelando os efeitos do contato com bosques, florestas e árvores na saúde física e mental”, explica Marco Aurélio Bilibio, mestre em Psicologia Clínica e presidente do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia, que estuda a relação entre meio ambiente e saúde mental.


Ficou constatado, segundo Bilibio, que essa imersão na natureza aumenta a atividade do sistema imunológico e, em contrapartida, diminui a quantidade de cortisol, hormônio ligado ao estresse, na corrente sanguínea.


Sistema nervoso


Os estudos também apontam que o banho de floresta eleva a atividade do sistema nervoso parassimpático, que está relacionado a reações de relaxamento. Assim, mergulhar na natureza diminui a ansiedade e aumenta o bem-estar.


“Recentemente, uma pesquisa realizada na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, revelou um elemento a mais: caminhar em meio a árvores regula regiões do cérebro associadas à depressão. Caminhar 20, 30 minutos ou mais nestes ambientes tem um efeito não só ansiolítico, que diminui a ansiedade, como também antidepressivo”, afirma o psicólogo.


Para ele, cidades dissociadas do verde têm maior índices de violência. Além disso, a presença de árvores ajuda a melhorar o microclima, o que colabora ainda com uma maior absorção de poluentes.


“Cada vez mais a gente vai entendendo que as cidades precisam ser mais verdes. As florestas têm que ser convidadas a voltar para as cidades por meio de parques e jardins, possibilitando práticas em que as pessoas possam se conectar à natureza”.


Para Bilibio, isso seria um apoio importante à saúde da sociedade e, por isso, deveria ser encarado como uma política pública.


Por onde começar?


De acordo com Marcos Sorrentino, doutor em Educação, pós-doutor no departamento de Psicologia Social da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, podemos ampliar o nosso contato com a natureza de diversas maneiras. Mas tudo deve começar com um mergulho em si mesmo.


“Por meio de alongamentos, fortalecimento das cadeias musculares, respiração diafragmática (enchendo a barriga ao inspirar) e meditação, passando por passeios a pé pelo próprio bairro, praças públicas e outros equipamentos sociais, até atividades diversas em unidades de conservação - das trilhas de interpretação e brincadeiras junto à natureza até a simples contemplação do vento balançando as folhas de uma árvore”.


O importante, conforme Sorrentino, é propiciar um diálogo consigo mesmo. “Realizar atividades de coleta de sementes, preparação da terra, plantio, cuidados com as plantas, colheita, preparação de alimentos e refeições compartilhadas, também são formas de ampliar o nosso contato com a natureza”, diz o especialista.


“Somos natureza. Em contato com a natureza exterior redescobrimos isto e talvez compreendamos que somente a conservando é que nos conservaremos”.


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