Acompanhamento médico reduz riscos de parto prematuro

Atenção diminui chance em quase três vezes, diz pesquisa

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  05/11/19  -  19:52
Gestantes que fazem os exames corretamente tem índice mais baixo de bebês que nascem antes da hora
Gestantes que fazem os exames corretamente tem índice mais baixo de bebês que nascem antes da hora   Foto: Rogerio Soares/Arquivo/AT

Acompanhamento médico regular durante a gestação reduz em até 2,75 vezes as chances de parto prematuro. A conclusão de uma pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, de Minas Gerais, chama a atenção sobre as deficiências da rede pública de Saúde. Apenas duas, em cada três gestantes brasileiras que deram à luz no ano passado, tiveram acesso a pré-natal adequado.


O cenário faz com que o país registre mais de 340 mil partos de prematuros por ano – 11,5% do total de nascidos. O percentual supera a média global de 10%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados foram abordados nesta segunda-feira (4), durante o primeiro seminário internacional de Neonatologia da Baixada Santista, realizado na Associação Paulista de Medicina (APM), em Santos.


Segundo o estudo, a taxa de prematuridade entre as gestantes brasileiras cai para abaixo de 8% se ela teve sete ou mais exames pré-natal. E dispara para 22% se o acompanhamento médico for inferior a três consultas. “Chama a atenção também o indicador de mortalidade materna, que é elevada no Brasil e na Baixada Santista”, diz o obstetra do Hospital São Lucas, Adriano Paião.


Ele afirma que partos de prematuros são o principal fator para elevar o índice de mortalidade infantil. E que apenas 30% dos casos de gestação interrompida antes dos nove meses são conhecidos pela literatura médica. Tabagismo, alcoolismo e uso de drogas são causas mais comuns.


Segundo a OMS, 2,5 milhões de recém-nascidos morreram no mundo, em 2017, antes de completar quatro semanas de vida. A maioria dos casos está ligada pouco peso do bebê.


O especialista cita que entre 25% e 50% dos nascidos antes do nono mês e abaixo do peso desenvolvem problemas que comprometem o sistema neurológico. 


“Até 2030, a OMS estima que 2,9 milhões de bebês devem morrer em 82 países. E isso pode ser evitado com estratégias humanizadas durante a gestação”.


A médica Marilene Martins afirma que o primeiro minuto (chamado o minuto de ouro) após o parto é decisivo para minimizar futuras sequelas nos prematuros.


Segundo ela, um em cada 10 nascidos necessita de ajuda para respirar após o parto. “O nascimento é o momento mais delicado na transição fisiológica da vida humana. Em nenhum outro o risco de morte é tão elevado”.


O parto antes da hora onera o Sistema Único de Saúde (SUS). Estima-se que a gestação interrompida gera um custo anual superior a R$ 8 bilhões, conforme projeções da Associação Brasileira de Pais de Bebês Prematuros (ONG Prematuridade).


Segundo a entidade, em média, cada criança prematura permanece 51 dias internada em UTI, ao custo médio de R$ 500 por dia. “É preciso falar em cifras para que os gestores municipais se sensibilizem da importância do pré-natal, afirma Paião.


Um, em cada quatro, morre nas primeiras semanas


Um, em cada quatro recém-nascidos de forma prematura, morre nas primeiras semanas após o parto. O dado da OMS chama a atenção para uma prática simples que pode reduzir esse indicador em escala global: o Método Canguru, que foi introduzido no País a partir da rede municipal santista, no começo da década de 1990. 


Desenvolvido na Colômbia há 40 anos, a metodologia é voltada ao um olhar humanizado sobre o recém-nascido de baixo peso, reunindo estratégias de intervenção biopsicossocial. Funciona mantendo contato pele a pele entre a mãe o bebê, reforçando os cuidados na alimentação do leite materno, estimulação e proteção daquela provê a vida. 


Segundo o cirurgião pediátrico colombiano José Maria Solano, a estratégia é importante política pública para reduzir o número de mortes de recém-nascido. “Consiste basicamente em amor, calor e leite materno”, afirma. 


Segundo Solano, a Colômbia apresentava uma taxa de 52 óbitos a cada mil nascidos vivos antes do desenvolvimento do método, no final dos anos 1970. Atualmente, o índice é de 14,1 – inferior ao regional, que segundo levantamento prévio da Secretaria Estadual da Saúde, é de 16 óbitos.


Conforme o especialista, o método auxilia no ganho de peso, com o acréscimo médio de 15 gramas ao dia. “A proximidade entre mãe e filho nessa fase auxilia no desenvolvimento psicológico e psicomotor da criança”. 


Na região, o Hospital Guilherme Álvaro é referência nesse procedimento. “Melhora significativamente os cuidados [do bebê]”, diz a enfermeira Vanessa Rodrigues, responsável pela rede regional dessa metodologia.


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