Acompanhamento médico regular durante a gestação reduz em até 2,75 vezes as chances de parto prematuro. A conclusão de uma pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, de Minas Gerais, chama a atenção sobre as deficiências da rede pública de Saúde. Apenas duas, em cada três gestantes brasileiras que deram à luz no ano passado, tiveram acesso a pré-natal adequado.
O cenário faz com que o país registre mais de 340 mil partos de prematuros por ano – 11,5% do total de nascidos. O percentual supera a média global de 10%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados foram abordados nesta segunda-feira (4), durante o primeiro seminário internacional de Neonatologia da Baixada Santista, realizado na Associação Paulista de Medicina (APM), em Santos.
Segundo o estudo, a taxa de prematuridade entre as gestantes brasileiras cai para abaixo de 8% se ela teve sete ou mais exames pré-natal. E dispara para 22% se o acompanhamento médico for inferior a três consultas. “Chama a atenção também o indicador de mortalidade materna, que é elevada no Brasil e na Baixada Santista”, diz o obstetra do Hospital São Lucas, Adriano Paião.
Ele afirma que partos de prematuros são o principal fator para elevar o índice de mortalidade infantil. E que apenas 30% dos casos de gestação interrompida antes dos nove meses são conhecidos pela literatura médica. Tabagismo, alcoolismo e uso de drogas são causas mais comuns.
Segundo a OMS, 2,5 milhões de recém-nascidos morreram no mundo, em 2017, antes de completar quatro semanas de vida. A maioria dos casos está ligada pouco peso do bebê.
O especialista cita que entre 25% e 50% dos nascidos antes do nono mês e abaixo do peso desenvolvem problemas que comprometem o sistema neurológico.
“Até 2030, a OMS estima que 2,9 milhões de bebês devem morrer em 82 países. E isso pode ser evitado com estratégias humanizadas durante a gestação”.
A médica Marilene Martins afirma que o primeiro minuto (chamado o minuto de ouro) após o parto é decisivo para minimizar futuras sequelas nos prematuros.
Segundo ela, um em cada 10 nascidos necessita de ajuda para respirar após o parto. “O nascimento é o momento mais delicado na transição fisiológica da vida humana. Em nenhum outro o risco de morte é tão elevado”.
O parto antes da hora onera o Sistema Único de Saúde (SUS). Estima-se que a gestação interrompida gera um custo anual superior a R$ 8 bilhões, conforme projeções da Associação Brasileira de Pais de Bebês Prematuros (ONG Prematuridade).
Segundo a entidade, em média, cada criança prematura permanece 51 dias internada em UTI, ao custo médio de R$ 500 por dia. “É preciso falar em cifras para que os gestores municipais se sensibilizem da importância do pré-natal, afirma Paião.
Um, em cada quatro, morre nas primeiras semanas
Um, em cada quatro recém-nascidos de forma prematura, morre nas primeiras semanas após o parto. O dado da OMS chama a atenção para uma prática simples que pode reduzir esse indicador em escala global: o Método Canguru, que foi introduzido no País a partir da rede municipal santista, no começo da década de 1990.
Desenvolvido na Colômbia há 40 anos, a metodologia é voltada ao um olhar humanizado sobre o recém-nascido de baixo peso, reunindo estratégias de intervenção biopsicossocial. Funciona mantendo contato pele a pele entre a mãe o bebê, reforçando os cuidados na alimentação do leite materno, estimulação e proteção daquela provê a vida.
Segundo o cirurgião pediátrico colombiano José Maria Solano, a estratégia é importante política pública para reduzir o número de mortes de recém-nascido. “Consiste basicamente em amor, calor e leite materno”, afirma.
Segundo Solano, a Colômbia apresentava uma taxa de 52 óbitos a cada mil nascidos vivos antes do desenvolvimento do método, no final dos anos 1970. Atualmente, o índice é de 14,1 – inferior ao regional, que segundo levantamento prévio da Secretaria Estadual da Saúde, é de 16 óbitos.
Conforme o especialista, o método auxilia no ganho de peso, com o acréscimo médio de 15 gramas ao dia. “A proximidade entre mãe e filho nessa fase auxilia no desenvolvimento psicológico e psicomotor da criança”.
Na região, o Hospital Guilherme Álvaro é referência nesse procedimento. “Melhora significativamente os cuidados [do bebê]”, diz a enfermeira Vanessa Rodrigues, responsável pela rede regional dessa metodologia.