A importância da infectologia em tempos de pandemia

Nunca antes se falou tanto em infectologia como hoje em dia

Por: Júnior Batista  -  04/05/20  -  01:02
Médica saindo para o plantão após se instalar no Monte Serrat Hotel
Médica saindo para o plantão após se instalar no Monte Serrat Hotel   Foto: Matheus Tagé

Nunca antes se falou tanto em infectologia como hoje em dia. Com a pandemia do novo coronavírus, todos os olhos do mundo se voltaram a essa especialidade da Medicina. E ela, apesar da importância, é uma das menos valorizadas no setor médico. Uma dificuldade histórica, por sinal, segundo especialistas da área. 


O médico infectologista Leonardo Weissmann define o profissional do setor como “um grande investigador”, que não pode se restringir a uma determinada parte do corpo humano. 


“Ele faz avaliações mais completas do organismo do paciente como um todo, muitas vezes atuando em conjunto com outros especialistas. Uma das grandes motivações de vários infectologistas é a realização de estudos científicos e a descoberta de novidades sobre a especialidade”. 


Weissmann lembra que essa área da Medicina é responsável por trabalhar na prevenção de doenças infecciosas. Ele cita como exemplo sarampo, dengue, aids, hepatites por vírus, meningites, leptospirose, tuberculose, malária e doença de Chagas, entre outras. 


“Também é papel do infectologista atuar na área de imunizações (vacinação), aconselhamento no uso correto de antibióticos, controle de infecção hospitalar, tratamento de pacientes com infecções em transplantes e nas doenças dos viajantes”. 


História recente 


Ao longo do tempo, a infectologia teve um peso destacado na Saúde. Foi assim com a descoberta da aids, por exemplo, causada por um vírus novo até então, o HIV – uma situação muito semelhante ao que ocorre hoje com a covid-19, destaca Weissmann. 


“Faz parte do DNA do infectologista a vontade de investigar, sem medo e preconceito, com cabeça aberta a novos conhecimentos. Outros momentos que não podem deixar de ser lembrados são a pandemia pela gripe suína, o surto pelo ebola na África, a chegada da zika e chikungunya ao Brasil e o número expressivo de casos de dengue”. 


Ele conta que o Brasil tem destaque na América Latina, no entanto, a distribuição dos profissionais ainda ocorre, em sua maioria, nos grandes centros urbanos, o que torna a demanda maior que a procura. 


“O investimento do Poder Público em pesquisas na área é muito baixo, assim como acontece de maneira geral no País. Muitas vezes, os pesquisadores são obrigados e buscar apoio da iniciativa privada para trabalhar ou gastar o próprio dinheiro para poder ver seu trabalho concluído”. 


Mesmo assim, com todos os percalços, a infectologia vale a pena. “Como um apaixonado pela especialidade, sou suspeito para falar. Mas, quem trabalha como infectologista, sabe que, apesar do ganho mensal não ser dos melhores, trata-se trata de uma especialidade linda, com amplo mercado de trabalho e que não tem uma rotina totalmente definida, com os frequentes novos surtos e epidemias”.


Epidemia e surtos atraem profissionais


Professor de infectologia na Unimes e um dos fundadoras da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Roberto Focaccia tem mais de 40 anos de experiência e profissão, tendo vivido grandes epidemias e o surgimento de diversos vírus. Ele lembra da meningite meningocócica na década de 1970, quando atuava no Instituto Emílio Ribas, e dos problemas causados pela aids, na década seguinte. 


Hoje, Focaccia vê que a infectologia ainda não é tratada da melhor maneira em muitas universidades do País. Um estudo feito por ele e ainda não publicado aponta que metade das universidades do País não tem uma disciplina de infectologia. 


O Ministério da Saúde discorda e diz que o ensino da infectologia é transversal, ou seja, está inserido em outras disciplinas. Mas o fato é que não é obrigatória uma disciplina exclusiva nos cursos de bacharelado. “Faltam infectologistas, nessa que talvez seja a mais clínica de todas as especialidades”. 


Focaccia explica que a carreira ainda não é tão atraente por conta da remuneração e pela dedicação exigida. “Porém, muitos estudantes a buscam. Nem todos têm vocação, mas sou esperançoso”. 


Escolhas 


A médica Ana Paula Rocha Veiga, que é professora do Centro Universitário Lusíada, lembra que escolheu a infectologia no auge da pandemia da aids, em 1992. Para ela, o desconhecido é desafiador e fascinante no setor, mas exige do médico estudo, dedicação e resiliência. 


“A doença nova precisa ser enfrentada. É o que vivemos agora com a pandemia da covid-19. A infectologia é uma especialidade muito importante em saúde pública pelo potencial impacto, dada a dinâmica dos agentes infecciosos, tornando-se um desafio diário, mais ainda em casos extremos”. 


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