Vírus mortal não deve alarmar população, diz Secretaria da Saúde de SP; 100 pessoas são monitoradas

Diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica disse que até a tarde desta terça-feira (21), não havia novo caso suspeito

Por: Do Estadão Conteúdo  -  22/01/20  -  10:10
Atualizado em 22/01/20 - 10:14
Apenas outros três casos do vírus (2 em SP e 1 no PA) foram registrados em toda a história
Apenas outros três casos do vírus (2 em SP e 1 no PA) foram registrados em toda a história   Foto: Divulgação/Bulletin of the World Health Organization

A diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), órgão da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, Helena Sato, disse que a população não deve se alarmar com o caso de febre hemorrágica brasileira, confirmado em um paciente de Sorocaba, que morreu no último dia 11, no Hospital das Clínicas, na capital. Segundo ela, a rede de saúde das cidades por onde o paciente andou no período da possível incubação da doença - Sorocaba, Itapeva, Itaporanga, Eldorado e Pariquera-Açu - foi colocada em alerta para identificar possíveis novos casos. Também foi iniciado um trabalho de campo para descobrir onde o paciente adquiriu o arenavírus, causador da doença.


A especialista disse que até a tarde desta terça-feira (21), não havia novo caso suspeito. "É um caso único e até o momento não estamos tendo outros suspeitos, por isso não é o caso de correria para o hospital ou posto de saúde. Nós, da saúde, estamos em alerta nessas áreas por onde a pessoa passou. Estamos investigando onde ele pode ter se contaminado e acompanhando as pessoas que podem ter tido contato com o paciente para ver se aparecem casos com sintomas semelhantes."


Conforme Helena, não há vacina para essa doença, o que impede um bloqueio através de vacinação. "Como a fonte de transmissão é o roedor silvestre, através de fezes e excreções, não é uma doença que pode se espalhar com rapidez. Importante deixar claro que o rato urbano, esse que vive em esgotos, embora possa transmitir outras doenças graves, como a leptospirose, não transmite a febre hemorrágica."


A Vigilância Epidemiológica estadual fez uma videoconferência com os responsáveis pela vigilância nas cinco cidades por onde o paciente passou. Em Itaporanga (15,4 mil habitantes), a secretária Renata Macedo Santos recebeu a visita técnica de uma equipe do Ministério da Saúde. O objetivo é pesquisar o local onde o paciente permaneceu - um bairro rural, próximo da cidade. "Não podemos dar muito detalhe para não alarmar a população, mas os moradores da região estão sendo monitorados", disse o assessor de comunicação Gustavo Onilde.


O mesmo trabalho começou a ser realizado em Itapeva (87,7 mil habitantes), onde o homem esteve em uma propriedade rural. O paciente teria colhido espigas de milho no sítio. Em Pariquera-Açu (19,3 mil habitantes), no Vale do Ribeira, o paciente teve contato apenas com profissionais da saúde, ao ser internado com suspeita de febre amarela, no Hospital Regional. Os funcionários já foram identificados e são acompanhados, conforme protocolo do Ministério.


Em Eldorado (15,4 mil mil habitantes), também no Vale do Ribeira onde o paciente recebeu o primeiro atendimento, a revelação do caso causou um princípio de alvoroço nesta terça-feira. A nota técnica do Ministério da Saúde foi distribuída em grupos de WhatsApp e muitas pessoas procuraram a rede de saúde. "A gente chegou a fazer os bloqueios desse caso em razão da suspeita de febre amarela. Agora, com a confirmação da febre hemorrágica, suspendemos esse trabalho, mas começamos outro, de identificar as pessoas que tiveram contato com o paciente. As pessoas estão ligando aqui alvoroçadas", disse Elisandra Antunes Ribeiro, gestora da saúde no município.


O paciente chegou à cidade no dia 29 e já no dia seguinte procurou o Pronto-Atendimento Municipal. Os sintomas iniciais eram leves - dor de cabeça, mal estar -, mas logo se agravaram com quadro de febre, dores abdominais intensas e icterícia (pele amarelada), o que levou à transferência para Pariquera-Açu. Os profissionais que atenderam o paciente já são acompanhados. O que já se apurou é que, no percurso entre Sorocaba e Eldorado, o homem parou no Parque Estadual Carlos Botelho, extensa área de mata atlântica em São Miguel Arcanjo, e passou por Sete Barras. Em Eldorado, onde tem familiares, ele estava na casa da mãe - ele era filho único. O corpo, liberado pelo Hospital das Clínicas, foi sepultado no Cemitério Municipal de Eldorado.


Doença letal faz SP monitorar 100 pessoas


Entre 100 e 150 pessoas que tiveram contato com o paciente que morreu de febre hemorrágica brasileira serão monitoradas nas próximas semanas quanto a possíveis sintomas da doença, informou nesta terça-feira, o Ministério da Saúde. Embora o risco de contágio seja baixo e nenhum deles tenha manifestado sinal da doença, eles serão acompanhados até o dia 3 de fevereiro, período máximo para uma possível incubação do vírus. Caso apresentem sintomas, os pacientes deverão ser encaminhados para internação.


Na segunda-feira (20), o ministério confirmou o primeiro caso de febre hemorrágica brasileira registrado no País em 20 anos. A doença é causada por uma nova variante do vírus Sabiá, da família arenavírus, o mesmo que causou as quatro infecções já registradas no Brasil.


De acordo com Júlio Croda, diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do ministério, fazem parte do grupo de pessoas monitoradas parentes e amigos que tiveram contato com o paciente e os profissionais de saúde que participaram do atendimento ao caso. "Ele passou por três estabelecimentos de saúde e teve as amostras analisadas por dois laboratórios", destacou Croda.


Croda explicou ainda que o ministério estratifica o grupo de monitorados em pessoas de alto, médio e baixo risco. Ele não quis informar quantas pessoas integram cada grupo, mas disse que são poucos os profissionais de saúde na situação de alto risco.


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