Um em 4 alunos do 2º ano não escreve palavra de 3 sílabas

Conclusão é parte dos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica, divulgado pelo MEC

Por: De Estadão Conteúdo  -  05/11/20  -  04:20
Atualizado em 05/11/20 - 05:20
Mais de 5 milhões de alunos foram avaliados no modo amostral
Mais de 5 milhões de alunos foram avaliados no modo amostral   Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

Um em cada quatro alunos do 2.º ano do ensino fundamental (7 anos) não sabe escrever de forma correta uma palavra de três sílabas a partir de um ditado. Esse e outros dados fazem parte dos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgados nesta quarta-feira, 4, pelo Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).


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A avaliação, feita de modo amostral no ano passado com 5,6 milhões de estudantes, apontou que 27,5% estão nos níveis 1, 2 e 3 de desempenho (em uma escala de 1 a 8) ou abaixo até do nível 1. O levantamento indicou que 17,8% dos alunos estão no nível 4 - em que são capazes, por exemplo, de escrever palavras trissílabas ou localizam informações explícitas no final de um texto muito curto - e 55% estão nos níveis de 5 a 8 (de maior desempenho em leitura e escrita).


Só 5% chegaram ao nível 8, o mais avançado, em que o aluno é capaz de inferir informações em textos longos. Os resultados foram divulgados por níveis de proficiência, mas não foram indicados quais patamares são considerados adequados.


A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento de 2017 que detalha o que os alunos devem aprender em cada etapa, define que a alfabetização das crianças deverá ocorrer até o segundo ano do ensino fundamental - antes, a expectativa era de alfabetização até o 3.º ano do fundamental.


A aplicação do Saeb para essa etapa foi mediada - os aplicadores leram partes das questões para a turma. A ideia era que o desempenho em tarefas mais básicas de leitura pudesse ser medido mesmo que o estudante ainda não estivesse alfabetizado. Foram avaliadas competências como a apropriação do sistema de escrita alfabética, leitura e produção textual.


Matemática


Já em Matemática, os resultados do Saeb para o 2.º ano do ensino fundamental indicam que metade está nos níveis de 1 a 4 (em uma escala de 1 a 8) ou abaixo até do nível mínimo. Alunos com esse desempenho não são capazes, por exemplo, de identificar, em um calendário de determinado mês, o dia da semana em que o mês se inicia.


Os dados evidenciam também desigualdades em relação às zonas rurais e urbanas e às regiões do Brasil. O desempenho, de modo geral, é melhor nas áreas urbanas, em relação às rurais, e nas capitais se comparado ao desempenho de estudantes de cidades do interior.


Língua Portuguesa


Em Língua Portuguesa, dez Estados obtiveram resultados acima da média nacional, de 750 pontos. Esses Estados são: Ceará, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e o Distrito Federal. Os demais ficaram abaixo da média. Houve diferença de 52,76 pontos na avaliação de Português entre o Estado com a maior média na prova (Ceará) e o Estado com a menor nota (Amapá). As regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul também obtiveram os melhores desempenhos em Matemática no 2.º ano - a exceção fica, novamente, com o Ceará, que lidera em Matemática em todo o País, bem acima da média nacional, de 750 pontos.


O Saeb vem sendo aplicado para estudantes do 5.º e 9.º ano do ensino fundamental e para o 3º ano do médio. Os resultados das provas, juntamente com as taxas de aprovação, reprovação e abandono compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).


Essa é a primeira vez que a prova foi a aplicada para avaliar os estudantes do 2.º ano. Por esse motivo, não é possível fazer uma comparação dos resultados obtidos agora com outras provas. A última delas, a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), de 2016, apontou que metade dos alunos do 3.º ano do fundamental tinha níveis de leitura insuficientes.


Alavancar os indicadores de alfabetização é apontado pelo governo Jair Bolsonaro como uma prioridade. A gestão demonstra predileção pelo método fônico de alfabetização - que dá ênfase no som das letras - e aposta em um programa que incentiva a leitura para crianças pelos pais, em casa.


Em um evento online de divulgação dos resultados nesta quarta, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que o Saeb "passa a incorporar o desafio da avaliação dos níveis de alfabetização" no segundo ano o fundamental. "A partir desses dados poderemos produzir indicadores sobre as condições de oferta de ensino e a contribuição para a melhoria da qualidade e redução das desigualdades."


Para Anna Helena Altenfelder, superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), os dados são importantes para nortear políticas públicas na área da alfabetização. Sobre o porcentual de crianças que não adquiriram quaisquer habilidades de leitura e escrita, ela diz ser "preocupante, considerando que todos têm o direito de aprender".


"Isso mostra que tem um trabalho a ser feito, políticas a serem desenvolvidas, planejamentos pedagógicas no nível da escola e professores que precisam rever seus planos de aula. Escolas e professores precisam de apoio técnico", diz a especialista. Anna Helena acrescenta, ainda, que os resultados não são uniformes pelo País, mas marcados pelas desigualdades socioespaciais e econômicas. Também destaca que bons resultados, como os do Ceará, são obtidos por meio de políticas consistentes e duradouras, que promovem a integração entre Estado e municípios.


Ciências


Também foram divulgados nesta quarta os resultados das provas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza do Saeb, aplicadas para o 9º ano do ensino fundamental (14 anos de idade). Em ambas as disciplinas, a média nacional ficou em 250 pontos. Em Ciências Humanas, 17% dos estudantes não chegaram nem mesmo ao nível 1 (o mínimo).


Em Ciências da Natureza, que mede o letramento científico dos alunos, mais da metade (52%) tiveram desempenho nos níveis 1, 2 ou mesmo abaixo do nível 1. Isso significa que essa parcela de estudantes não é capaz, por exemplo, de interpretar resultados de experimentos científicos apresentados em tabelas e gráficos simples ou reconhecer a importância das vacinas na prevenção de doenças (competências do nível 3)


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