Promessa de Bolsonaro, isenção de motos pode deixar pedágio 5% mais caro

É o que avalia a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Representantes do setor de infraestrutura e concessões afirmam terem sido pegos de surpresa com o anúncio

Por: Do Estadão Conteúdo  -  29/07/20  -  14:12
Atualizado em 29/07/20 - 15:06
Intenção é iniciar o estudo de reorganização viária pelo Sistema Anchieta-Imigrantes
Intenção é iniciar o estudo de reorganização viária pelo Sistema Anchieta-Imigrantes   Foto: Arquivo/Carlos Nogueira/AT

A proposta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de isentar o pedágio de motociclistas nas próximas concessões pode pesar no bolso dos demais usuários de vias federais. Cálculos da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) indicam que a tarifa pode ficar até 5% mais caro. O valor seria repassado aos usuários de carros e caminhões, conforme avaliam de representantes do setor de infraestrutura e concessões.  


Segundo a ABCR, o valor do eventual reajuste aos demais usuários muda de acordo com o trecho. Por exemplo, quanto mais perto a concessão está de um grande centro urbano, maior o impacto, já que a concentração de motociclistas é mais alta nessas regiões.  


Para a entidade, a mudança seria um "retrocesso". O diretor-superintendente da ABCR, Flávio Freitas, lembrou que as primeiras concessões não previam o pagamento de pedágio por motos, mas que a regra mudou justamente para desonerar os demais motoristas.  


A ideia da isenção foi lançada por Bolsonaro neste fim de semana, ao conversar com um grupo de apoiadores após um passeio de moto pela capital federal. Na ocasião, o presidente disse já ter dado a diretriz para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Questionada pelo Estadão, neste terça-feira (28), sobre o andamento da medida, a pasta não respondeu até a publicação deste texto.  


O diretor-superintendente da ABCR observou que o poder público é "soberano" para definir as regras da concessão, podendo, portanto, prever esse benefício nos próximos contratos. Para ele, porém, o conceito de "usuário-pagador" deve ser mantido. De outra forma, os motoristas de caminhão e carro precisarão arcar com os custos do benefício formulado aos motociclistas.  


"Pode não ser um valor representativo (de encarecimento do valor da tarifa), mas aquele custo de manutenção e mecânico e médico que as motos têm direito ao andar em rodovia concedida, alguém vai ter de pagar por isso. Nós vemos como um retrocesso", afirmou Freitas.  


O presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Vander Costa, disse, em nota, que a entidade não apoia nenhum tipo de gratuidade, justamente por acreditar que tal medida fará com que os outros usuários paguem mais caro pela tarifa. 


"Lutamos, sim, pelo fim dos privilégios, e não para ter mais um grupo de privilegiados", disse Costa, lembrando que a bandeira da CNT é pelo sistema de pedágio free-flow, no qual a cobrança ocorre de acordo com o quilômetro percorrido. "Respeitamos a opinião do presidente Bolsonaro, mas pensamos diferente”.  


Atendimentos  


Apesar de as motos gerarem um desgaste de pavimento menor do que outros veículos, quase metade dos atendimentos médicos e mecânicos prestados nas rodovias pelas concessionárias são direcionados a motociclistas, explicou o diretor-superintendente da ABCR, segundo ele, o governo não chegou a discutir a pauta com a entidade.  


É o mesmo ponto destacado pelo advogado especialista em aspectos regulatórios e no equilíbrio econômico-financeiro de contratos de concessões comuns e PPPs, Maurício Portugal Ribeiro. A percepção desse custo com os atendimentos, observou ele, foi o que levou o governo a mudar as regras e passar a cobrar pelo pedágio de motociclistas. 


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