PM do Bope negocia morte de major com bandido: 'Forja assalto e rasga ele'

Diálogos mostram o policial tentando convencer criminoso a matar um oficial que combatia o tráfico

Por: De A Tribuna On-line  -  08/10/19  -  19:10
Viatura sendo monitorada por traficantes armados na Serrinha, foto faz parte do inquérito
Viatura sendo monitorada por traficantes armados na Serrinha, foto faz parte do inquérito   Foto: Reprodução

Um policial militar do Batalhão de Operações Especiais (Bope) tentou convencer o chefe do tráfico do Complexo da Serrinha, em Madureira, a matar um major que combatia o crime na favela. As informações são do jornal O GLOBO, que teve acesso aos diálogos com exclusividade. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça entre 2014 e 2015 revelam que o PM tentou convencer Walace de Brito Trindade, o Lacoste — criminoso foragido com mandados de prisão por roubo, tráfico e homicídio — a forjar um assalto para executar um oficial do 9º BPM (Rocha Miranda) que chefiava, na ocasião, uma ocupação policial na Serrinha. 


O policial ainda dava detalhes da rotina do Bope para o traficante e o alertava previamente sobre operações da unidade, até hoje não foi identificado. No dia 13 de novembro de 2014, o PM usou o aplicativo BlackBerry Message para entrar em contato com o traficante, que era monitorado pela PF. Ele chama o criminoso de “meu rei”.  


“Bom dia meu rei tudo tranquilo, ou esse brocha do X. ta zoando a comunidade????”, pergunta o PM, se referindo ao major pelo sobrenome. “Tá, meu rei nem fala”, responde Lacoste. A identidade do oficial será preservada 


“Pow meu rei manda buscar ele em casa sem levantar suspeita. No sapatinho levanta onde mora e manda pescar. É o único jeito, ou então espera esse arrom**** sair que já tá perto”, sugere o PM. “Manda ver onde mora e quando ele for sair da casa, forja um assalto e rasga ele”, completa o policial em seguida. 


Uma semana depois, o PM volta ao assunto: “Tem que ser longe daí”, escreveu, em 20 de novembro. “Glock com silenciador e carregador goiabada de 100 tiros pow vai brincar com ele. Esse cara tá com marra de brabo. Manda ele pro cara***”, completou, fazendo referência à arma que seria usada no crime.  


“Correto, vou ver. Tinha que arrumar uns caras pra fazer essa parada meu rei”, responde o traficante. “Não é difícil não”, finaliza o agente. Eles não voltam a falar sobre o assunto. O oficial alvo da dupla segue na PM. 


Operações vazadas  


Em outros diálogos, o PM vazou operações do Bope que aconteceriam tanto na Serrinha quanto em outras favelas dominadas pela mesma facção. Entre os dias 24 e 25 de novembro de 2014, o agente avisou a Lacoste que o Bope iria ocupar a Vila Aliança, em Bangu, após o sequestro, tortura e execução do soldado Ryan Procópio Guimarães na favela. O PM era irmão de um tenente do Bope. 


“Pow meu rei se liga tá rolando um papo que mataram o irmão de um oficial aqui do Bope. Vai tampar a Vila por tempo indeterminado até pegar o mano”, escreveu o policial. “O mano” citado pelo agente era Rafael Alves, o Peixe, então chefe do tráfico da Vila Aliança. 


O PM até sugere ao criminoso que a facção tire Peixe da favela por conta das operações do Bope. “Tem que mandar o mano ir para bem longe porque vão fazer carga lá até pegar ele”. 


Por volta das 6h do dia 25, o PM ainda avisa sobre uma ação do serviço reservado do batalhão. “Meu rei a brasa tá quente, não dá mole aí não. Fica ligado que a P2 do Bope tá indo para rua fazer operação”, escreveu o PM. Em outras mensagens, traficante e policial combinam data e local para a entrega da “meta” — expressão usada pela dupla se referir à propina. 


As mensagens interceptadas originaram diversas investigações contra PMs e traficantes. A mais recente delas a chegar à Justiça é a que terminou com a denúncia de nove policiais do 9º BPM por corrupção. 


*Com informações do O Globo  


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