Nova 'brincadeira' entre adolescentes, desafio 'quebra crânio' pode levar à morte

Vídeo feito em um colégio na Venezuela assustou pais e se tornou viral entre os jovens

Por: Júnior Batista  -  12/02/20  -  19:50
  Foto: reprodução

“Essa ‘brincadeira’, se é que se pode chamar assim, pode levar à morte”. O alerta é de Roger Diniz, professor de Ortopedia do curso de Medicina da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), sobre vídeos que circulam na internet mostrando adolescentes fazendo o “quebra crânio”. No desafio, três pessoas ficam lado a lado. Enquanto a do meio (desavisada) salta, os dois das extremidades aplicam uma rasteira, causando sua queda.


Um desses vídeos foi gravado há pouco mais de uma semana em um colégio de Caracas, na Venezuela, e se tornou viral. Nas imagens, o menino cai e bate violentamente com a cabeça no chão. Outros vídeos foram sendo repetidos. Em um deles, aparentemente dois irmãos fazem o ‘desafio’ com a mãe deles.


“Uma coisa importante a ser ressaltada sobre a queda da própria altura é que é muito perigoso. Imagina saltar, cair um pouco mais do alto e ainda ter aumentada a velocidade de queda, batendo a cabeça no chão. O risco é ter uma lesão na base de crânio ou posterior do crânio, causando morte imediata ou sequelas neurológicas irreversíveis, como paralisar um lado do corpo, ter uma lesão de coluna cervical grave e até tetraplegia [paralisia do corpo do pescoço para baixo]”, ressalta Diniz.


“Traumas como esses podem levar a uma hemorragia intracraniana, necessitar de cirurgia de emergência, levar ao coma e até mesmo à morte”, alerta a pediatra Lilian Gonçalves Zaboto.


Segundo Roger Diniz, outro risco grande é ter traumas nos ombros e cotovelos, prejudicando o crescimento. “Quando caímos, é instintivo colocar a mão para se proteger, a mão para trás. Pode ter uma fratura de ombro, de cotovelo e osso, que ainda está crescendo. Além de uma fratura de punho e parar de crescer naquele ponto, ficar com um braço maior que o outro. É muito grave”, alerta.


Educação é única saída


Para Denise Lellis, PHD em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), isso não deve, nem de longe, ser chamado de brincadeira. “É uma agressão”, afirma.


“Ultrapassa os limites do bullying, se torna agressão física e denota a falta de empatia e preocupação desses adolescentes uns com os outros. Tanto quanto ao bem-estar emocional quanto físico”, diz.


De acordo com a médica, isso demonstra como as crianças e adolescentes estão expostas a um “estilo de vida tóxico”. “Os pais devem agir preventivamente. Crianças e adolescentes que veem esse vídeo e que reproduzem só demonstram como eles estão em um ambiente solitário”.


Para ela, mostra que precisamos estar muito mais atentos aos jovens e conversar mais. “Vejo muitos comentários de que essa geração não é resiliente, não tem preocupação, mas isso começa com os pais. Pais têm a oportunidade de impedir que isso aconteça. Pais presentes são pais que podem prevenir isso. Ensinar empatia e cuidado com outro”.


Morte parecida


Algo parecido aconteceu em Mossoró, no Oeste do Rio Grande do Norte. Emanuela Medeiros, de 16 anos, morreu depois de bater a cabeça no chão ao cair durante uma brincadeira na Escola Municipal Antônio Fagundes. O caso foi em novembro do ano passado. Ela sofreu traumatismo craniano e morreu no hospital.


De acordo com reportagem publicada pelo jornal A Rede, do Paraná, a jovem participava de uma brincadeira com outras duas pessoas que a seguraram e tentaram girá-la, como uma espécie de cambalhota. Durante o giro, ela caiu e bateu a cabeça no chão.


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