'Não é hora de julgar. É hora de todo mundo se unir e orar', relata santista que mora na China

Talita Gakiya é bailarina profissional e mora em Guangzhou. Ela contou um pouco sobre o dia a dia nas cidades chinesas após a epidemia

Por: Marcelo Luis & Da Redação &  -  31/01/20  -  14:30
Atualizado em 31/01/20 - 14:33
Sem poder trabalhar na China, brasileira irá viajar para as Filipinas
Sem poder trabalhar na China, brasileira irá viajar para as Filipinas   Foto: Reprodução/Instagram

A rotina da bailarina profissional e farmacêutica Talita Gakiya mudou radicalmente nos últimos dias por conta do avanço do coronavírus. Talita, que é natural de Santos, mora na China há sete meses e tem acompanhado de perto todos os esforços das autoridades chinesas para combater a epidemia, que incluem, por exemplo, medidas para evitar aglomerações e aferição da temperatura das pessoas em locais públicos.


Talita foi para a China a trabalho e atualmente vive na cidade de Guangzhou, também conhecida por Cantão, localizada na província de Guangdong. Por lá, há poucas pessoas nas ruas, mas o transporte público segue operando normalmente. São aproxidamamente 980 quilômetros de distância da cidade de Wuhan, província de Hubei, epicentro do coronavírus. Na China, as províncias equivalem ao que chamamos de estados, aqui no Brasil.


“Na semana passada, o governo chinês emitiu um comunicado para que todos os estabelecimentos fossem fechados. Parques, bares, casas de entretenimento e shows... Até a Disney de Shangai está fechada. Enfim, todos os lugares onde possa haver aglomeração. Além disso, o feriado do Ano-Novo Chinês, que é um período de muitas festividades, foi prolongado até o dia 3 (segunda-feira). E, embora eu viva em uma outra província, as medidas são as mesmas. Por causa disso, eu e outras pessoas da classe artística não estamos podendo trabalhar e não tem previsão de volta”.


A bailarina santista conta, por exemplo, que o uso de máscara é obrigatório e que enfermeiros estão em diversos lugares aferindo a temperatura corporal dos pedestres. “Fazem isso em ônibus, estações de trem... Outro dia, o aferidor estava errado e indicou que eu estava com febre, mas eu não tinha nada. Tive de ficar meia hora plantada. Não me deixaram sair até que tivessem a certeza de que eu não estava com a temperatura alta. Se estivesse, iriam me encaminhar para um hospital pra ficar de quarentena”.


Talita mantém ativa uma conta no Instagramna qual conta um pouco de seu dia a dia na China. “Tenho recebido muitas mensagens do Brasil, de gente apavorada, perguntando se estou sem alimento. Acontece que, por causa do feriado do Ano-Novo Chinês, não há reabastecimento nos mercados, mas isso será normalizado agora. Divulgaram um monte de imagens de mercados vazios, de pessoas correndo sem alimento, desmaiando na rua. É fake news. Vi muitos comentários preconceituosos contra os chineses, até mesmo em relação à alimentação. O fato é que a China construiu um hospital voltado ao tratamento dos pacientes com coronavírus em apenas sete dias. Acredito que os chineses vão dar a volta por cima. Já lidaram com a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2003. Enfim, eles têm tecnologia, experiência e mão de obra para lidar com isso”.


De acordo com a bailarina, a maior preocupação entre os estrangeiros seria a China fechar os aeroportos para voos internacionais.


“Mas acho isso pouco provável. Diminuíram os voos, mas fechar totalmente e impedir que os estrangeiros retornem a seus países, acho bem difícil que aconteça”.


Como não está podendo trabalhar, Talita já comprou passagens para as Filipinas, país que sempre teve vontade de conhecer. Ela pretende retornar à China assim que o país voltar à normalidade. “Não é hora de julgar, criticar e achar culpados. É hora de todo mundo se unir e orar”.


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