Massacre em Suzano divide opiniões sobre jogos virtuais

Pesquisas e especialistas divergem. Mas há um limite em que os jogos de videogame se tornam nocivos?

Por: Gabriel Oliviera & Da Redação &  -  16/03/19  -  20:56
Atualizado em 16/03/19 - 21:23
Jovens vão utilizar o aprendizado na prática
Jovens vão utilizar o aprendizado na prática   Foto: Getty Images/ NurPhoto

O massacre em Suzano reacendeu o debate sobre a influência dos games violentos no comportamento dos jovens. Para especialistas ouvidos pela Reportagem, jogos eletrônicos até podemcontribuir para atos agressivos, mas só se associados a outros elementos, como a ausência de base familiar e relações sociais na vida real.


Os autores dos assassinatos na Escola Estadual Professor Raul Brasil jogavam Call of Duty e Counter-Strike, games de tiro em primeira pessoa, nos quais o jogador se enxerga do ponto de vista do protagonista, com armas em punho.


Um estudo recente da Universidade de Oxford, no ReinoUnido, divulgado no mês passado, não encontrou relação entre o comportamento agressivo de adolescentes e o tempo que eles passam jogando video game.


Outro estudo, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, de outubro de 2018, cravou que jogar games violentos pode causar elevação da agressividade.


Como há pesquisas apontando em diferentes direções e nenhuma delas é conclusiva, o professor de Educação e Psicologia na Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) Gerson Tenório dos Santos observa que, ao jogar, o jovem “está circunscrito por uma série de outros fatores sociais, culturais, econômicos e familiares, que são decisivos em como se joga”.


Perigo


Quando a criança ou o adolescente não possui vínculos sociais e emocionais com outras pessoas, não vêem quem se espelhar, tem baixa autoestima ou é vítima de bullying, podem ergulhar de cabeça nos games, o que é prejudicial para quem tem laços afetivos frágeis. “O jovem começa a ter uma relação de maior distanciamento da realidade e a fantasiar relações sociais a partir do modelo do jogo”, diz Gerson. Assim, o video game torna-se referência.


Isso é possível porque o game é muito sedutor, conforme explica o professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de SãoCarlos (UFSCar) Antônio Álvaro Soares Zuin.


“Um dos motivos desta sedução é a possibilidade de o indivíduo exercer o sentimento de onipotência narcisista: ele tem o controle, mata e constrói. Se estiver insatisfeito com o personagem, troca-o por outro. Há uma sensação de que se pode fazer tudo”.


Antônio compartilha da opinião de que o game não é causa de violência, a não ser quando aliado a outras motivações, e pondera que até jogos não violentos podem ser prejudiciais.


“Na medida em que as pessoas se afastam das outras em decorrência do uso contínuo do game, isso pode trazer uma série de problemas,tanto comportamentais quanto físicos”.


O especialista ressalta que é importante estimular a aproximação no mundo real e dosar o uso dos jogos.


Quando a vida em games na rede vira dependência


Como saber quando o game, seja de computador, console ou celular, pode ser prejudicial e/ou se tornar um vício?


Existem três tipos de sinais, conforme o psiquiatra Aderbal Vieira Junior, do ambulatório de Tratamento de Dependência de Comportamentos, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).


Um indicativo de dependência é quando o jovem perde o controle de decidir “quando quer jogar e por quanto tempo, se sentindo pressionado a fazer”.


Outras consequências são o afastamento da convivência social comparentes e amigos e o surgimento de problemas de saúde.


Há, ainda, o que o especialista chama de empobrecimento social, quando o game passa a ocupar cada vez mais espaço no dia a dia da pessoa a ponto de “a vida dela se reduzir a fazer coisas do jogo”.


Violência real


O professor de Educação e Psicologia na Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) Gerson Tenório dos Santos chama atenção para a necessidade de se atentar a comentários agressivos e ao desejo de encarnar, na vida real, os personagens violentos dos games.


“Como em qualquer tipo de vício, tem que ir dosando a relação do adolescente com o consumo de estímulos audiovisuais via game. Se não for possível ou os resultados forem abaixo do que poderiam ser, é importante procurar ajuda de psicólogo”, orienta o professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Antônio Álvaro Soares Zuin.


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