Conexão Portugal: Tensão na cidade do Porto

Nesta edição da coluna, Luís Plácido fala sobre a situação de que, desde 2013, os preços de aluguéis de imóveis subiram 88% nas áreas mais nobres

Por: Luiz Plácido - De Coimbra  -  21/03/19  -  17:45

Outrora repleto de prédios abandonados ou em más condições, o centro da cidade do Porto foi no embalo da moda que virou Portugal nos últimos anos e passou por uma grande reformulação. Boa parte desses imóveis foram adquiridos por estrangeiros que reformaram moradias para servir como hostels ou para locação através de sites como o airbnb e por especuladores imobiliários que pretendem aproveitar a valorização do mercado para locar os apartamentos a preços mais elevados, por vezes, até abusivos.


O problema é que alguns desses edifícios não estavam abandonados. Muitos eram habitados por moradores, na maioria idosos, que têm contratos antigos, mas ainda em vigência, com aluguéis a preços menores do que o praticado atualmente. Com isso, eles passaram a ser intimidados e até ameaçados para que deixem suas residências. 


A prática tem sido recorrente e veio à tona depois que um incêndio, aparentemente criminoso, vitimou uma pessoa. Familiares da vítima testemunharam visitas de indivíduos “corpulentos” dias antes ameaçando os inquilinos de morte caso estes não abandonassem a casa.


Sob anonimato, alguns inquilinos admitiram ao Jornal de Notícias, meio de comunicação veiculado em Portugal, que contrataram seguranças particulares por cerca de 50 euros ao dia, para enfrentar as ameaças. José Fernandes, advogado da Associação de Inquilinos do Norte (AIN) afirmou que “as pessoas vivem aterrorizadas” e citou ainda algumas técnicas de intimidação, como inundar zonas comuns do prédio, cortar a luz ou a água sem razão aparente ou até mesmo aparecer sem avisar para mostrar o imóvel a algum futuro investidor. Isso sem falar das mentiras proferidas, ameaças verbais e até físicas. 


Uma moratória, que vigora até o fim do mês, proíbe que inquilinos com mais de 65 anos ou com 60% de incapacidade sejam despejados. Caso seja revogada, o número de despejos tende a aumentar em curto espaço de tempo. 


Algumas ações movidas por pessoas físicas e outras movidas por movimentos e organizações vêm apelando para que autoridades policiais que investiguem as ameaças. Entre as reivindicações, o movimento pede a limitação das licenças de alojamento local, para que se diminua o número de imóveis destinados à locação turística.


O turismo crescente na cidade do Porto e a falta de casas para alugar tem feito os preços dos aluguéis disparar. Só nos primeiros três meses deste ano os valores subiram cerca de 20%, o que representa, segundo o Índice de Rendas, o maior aumento registrado nos últimos sete anos. 


Desde 2013, os preços subiram 88% na Baixa do Porto, área nobre da cidade, um aumento tão significativo, que já não é possível alugar um apartamento no centro da cidade com um salário mínimo português. O resultado é a gentrificação e o aumento da desigualdade local, que acaba por expulsar os moradores mais antigos para as zonas mais afastadas do centro. Eles dão lugar, principalmente, a estrangeiros, que estão dispostos a pagar preços mais elevados para residir na parte mais cobiçada do Porto.


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