Conexão Portugal: A Europa e o racismo

Os comentários de anônimos que seguem as páginas dos jornais em redes sociais e de alguns famosos também deixam claro que o racismo é latente ainda na Europa e precisa ser combatido com veemência

Por: Luiz Plácido - De Coimbra  -  10/12/20  -  19:42
Conexão Portugal: A Europa e o racismo
Conexão Portugal: A Europa e o racismo   Foto: Unsplash

Dia 8 de dezembro de 2020. Em campo, duas equipes disputavam a última partida da fase de grupos da Liga dos Campeões. De um lado, o Paris Saint-Germain, da França, e do outro, o Istanbul Basaksehir, da Turquia, no estádio Parque dos Príncipes, casa do PSG em Paris. O jogo transcorria normalmente até que, aos 13 minutos do primeiro tempo, uma falta mudaria para sempre a história deste jogo.


Kimpembe, zagueiro central do PSG, após entrada no adversário, foi advertido com o cartão amarelo, o que gerou reclamações por parte da comissão técnica da equipe parisiense. Foi nessa hora que, segundo o lateral direito da equipe turca, o brasileiro Rafael Silva, o quarto árbitro virou-se para o membro da comissão técnica Pierre Webó e disse: “Negro, saí daí, vai-te embora”, expulsando assim o esportista, que ficou inconformado, não com a expulsão, mas sim, com as palavras proferidas pelo quarto árbitro, o romeno Sebastian Coltescu. 


É possível ver no vídeo as palavras de Webó ao quarto arbitro: “O que você disse? Você disse preto? Você não fala ‘aquele cara branco’. Você fala ‘aquele cara’. Por que então falar ‘aquele cara preto’?”, questionou, visivelmente irritado. 


O resultado foi uma confusão sem precedentes em campo, que culminou na saída dos dois times do relvado e o adiamento da partida para ontem.


Vale lembrar que a palavra nigger (criolo/preto) vem da língua inglesa e é, sim, um insulto racial. O termo surgiu provavelmente no Século 18 como uma derivação da palavra negro na língua espanhola. Na língua inglesa, passou a ser utilizada de forma pejorativa a partir de meados do Século 20, em especial nos Estados Unidos. 


Alguns especialistas dizem que a conotação ofensiva da palavra ganhou força no caso O. J. Simpson, que foi acusado de matar a sua ex-mulher, Nicole Brown Simpson, e o garçom Ron Goldman, em junho de 1994. Durante o julgamento, o policial que testemunhava contra o acusado utilizou a palavra niggers para falar de Simpson, que é negro. Tal fala acabou por confirmar que o policial era racista e o júri, de maioria negra, acabou por inocentar O. J. Simpson. A partir daí, a palavra que começa com n, como dizem os americanos, foi banida do dicionário. 


Em Portugal, existe uma palavra de termo ofensivo para os brasileiros que tem origem na palavra “nigger”, o tal do “zuca”. Sempre que te chamarem de zuca em terras europeias, pode se sentir ofendido. 


Como era de se esperar no dia seguinte, todos os jornais europeus, e não só, publicaram a notícia do que houvera acontecido em Paris no dia anterior. E os comentários de anônimos que seguem as páginas dos jornais em redes sociais e de alguns famosos também deixam claro que o racismo é latente ainda na Europa e precisa ser combatido com veemência. 


Entre os comentários anônimos, na maioria das vezes proferidos por perfis falsos, existem palavras que poderiam colocar muitos atrás das grades no Brasil. E entre os famosos, existe a insistência de que o que acontece nos dias de hoje é “frescura” ou “mimimi” – entre eles, Jorge Jesus, treinador do Benfica e ex-treinador do Flamengo, que disse em entrevista coletiva que “hoje, qualquer coisa que se diga contra um negro é sempre sinal de racismo, mas o mesmo a um branco já não é sinal de racismo. Está a implementar-se essa onda no mundo. Mas repito que não sei o que disseram (no jogo PSG x Istanbul Basaksehir)”. 


São afirmações como essa que acabam descredibilizando a luta árdua contra o racismo, que na Europa não é crime, como é no Brasil. Se Jorge Jesus não sabe o que foi dito no jogo, o melhor era ficar quieto. É como aquele seu amigo branco que diz: “eu não sou racista, tenho até amigo preto”. O RACISMO TEM QUE ACABAR


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