Conexão Japão: Prevenção ao terrorismo

Durante todo este período (desde 2001), sequer um caso de terrorismo motivado por questões religiosas foi registrado

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  10/11/20  -  23:30
Conexão Japão: Ex-premiê Abe enfrenta sabatina
Conexão Japão: Ex-premiê Abe enfrenta sabatina   Foto: Unsplash

No rescaldo dos ataques terroristas de cunho religioso em Nice, na França, no dia 29 de outubro, e em Viena, na Áustria, no dia 2 de novembro, o governo da metrópole japonesa Tóquio, sede dos Jogos Olímpicos adiados para 2021, decide investir em promoção de medidas de prevenção contra o terrorismo. Durante novembro e dezembro, dez ônibus caracterizados e carregando dois personagens de um famoso desenho animado vão circular pela cidade carregando o slogan: “continue seguindo em frente com a prevenção ao terrorismo”.


“Para uma olimpíada bem sucedida, esperamos promover uma atmosfera onde as pessoas não deixem um ataque terrorista acontecer”, disse um oficial do departamento de polícia metropolitana de Tóquio, citado pelo jornal Yomiuri. 


Há 19 anos, desde o ataque às torres gêmeas em Nova Iorque, em 2001, um letreiro eletrônico foi instalado nas linhas de metrô de todo o país. Em japonês e inglês, o texto chama a atenção dos usuários de transportes públicos para itens suspeitos deixados em locais onde há grande circulação de pessoas. 


Em todo o território japonês, existem 200 mesquitas, chamadas de centros islâmicos. No entanto, durante todo este período, sequer um caso de terrorismo motivado por questões religiosas foi registrado. Mesmo que o Japão seja aliado dos Estados Unidos e tenha enviado tropas ao conflito no Iraque em 2004 e 2006. Mas na guerra dos EUA no Afeganistão, o primeiro conflito após o 11 de Setembro, o governo do Japão decidiu de última hora não participar da coalizão. 


Ataques semelhantes ao terror entregue pelo Estado Islâmico foram impetrados no Japão por outros motivos. O caso mais infame aconteceu no dia 20 de março de 1995. A seita religiosa Aum Shinrikyo, para a qual o apocalipse significava a redenção, organizou cinco ataques com bombas de gás venenoso em três linhas de metrô da capital japonesa, causando a morte de doze pessoas e ferindo severamente outras 50. Mais de mil pessoas tiveram perda temporária da visão. 


Nos últimos anos, nenhuma cidade japonesa teve mais casos de terror do que Osaka, a segunda maior metrópole, localizada na região de Kansai, oeste da ilha principal. Em janeiro de 2020, uma turista chinesa foi esfaqueada na cabeça. Em 2019, um policial foi esfaqueado e teve sua arma roubada. Em 2001, oito crianças foram esfaqueadas dentro de uma escola na mesma cidade. 


Na cidade vizinha, Quioto, um estúdio de animações sofreu ataque incendiário e 36 pessoas morreram. Em Nagoia, as cenas de um esfaqueamento viralizaram no Twitter em 2019, até que foram misteriosamente retiradas do ar. 


Portanto, o terrorismo está presente no Japão, mas de uma forma diferente. Ao invés de motivação religiosa, os ataques são perpetrados por portadores de problemas mentais, psicológicos. Os algozes são cidadãos do próprio país mas as vítimas, nem sempre. 


Sobre o autor - Yukio Spinosa é jornalista, intérprete, tradutor e consultor para prospecção de produtos da indústria japonesa. Ele escreve na coluna Conexão, do jornal A Tribuna, quinzenalmente.


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