Conexão Japão: Oposição se une em momento decisivo

A fusão dos dois partidos de oposição num grupo ainda sem nome definido equivale à ressurreição do extinto Minshuto

Por: Yukio Spinosa- De Nagoia  -  31/08/20  -  18:46

Os dois maiores partidos de oposição do Japão estão em vias de se unificar, procurando apresentar uma alternativa mais verossímil ao atual governo do Partido Liberal Democrata (Jiminto ou LDP), do primeiro-ministro Shinzo Abe, nas eleições do ano que vem. Na última quarta-feira (26), deputados do Partido Democrata para o Povo (Kokumin Minshuto ou DPP) decidiram formar um novo grupo com o Partido Constitucional Democrata (Rikken Minshuto ou CDP).


Quando o Jiminto obteve a maioria dos parlamentares na Dieta (o poder legislativo do país), em 2017, a derrota sofrida pelo então Partido Democrata do Japão (Minshuto ou DPJ) ocasionou uma cisão e a oposição resumiu-se em dois partidos menores. Além de DPP e CDP, o Partido Comunista do Japão (Kyosanto ou JCP), o Partido Social Democrata (Shakai Minshuto ou SDP) e siglas independentes, juntos, podem chegar a obter a maioria de membros na Dieta. 


A fusão dos dois partidos de oposição num grupo ainda sem nome definido equivale à ressurreição do extinto Minshuto. O novo partido deve juntar 150 parlamentares e ameaça a hegemonia do Jiminto no comando do governo japonês. Maior assistencialismo, independência quanto à relação com os Estados Unidos e menor hostilidade à China estão entre as características da oposição. Como as eleições no Japão são indiretas, os eleitores votam nos parlamentares que vão escolher o próximo primeiro-ministro antes do outono de 2021. Em outubro deste ano, assentos vagos na Dieta serão colocados em votação, se necessário. E em outubro de 2022, 154 assentos da Câmara Alta, a casa dos conselheiros, equivalente ao Senado, estarão em jogo. 


A decisão estratégica foi tomada exatamente num momento singular, com Shinzo Abe anunciando que irá renunciar de seu cargo como chefe de estado. O premiê foi ao hospital da universidade de Keio para tratar de colite ulcerativa, uma doença crônica e sem cura. Em 2007, Abe renunciou ao cargo de primeiro-ministro por problemas de saúde. Na ocasião, sua impopularidade era um empecilho para a aprovação da retirada da presença japonesa da coalizão na guerra contra o Taliban, no Afeganistão.


Abe anunciou a saída ontem, em entrevista coletiva. Disse que ficará no cargo até que seu sucessor seja confirmado. Também explicou que, devido à colite ulcerativa, e que começou a tomar novos medicamentos. O tratamento está dando resultados, assegura, mas ele não se sente confiante para governar.


Nos últimos 65 anos, o Jiminto deixou o poder em apenas três efêmeras ocasiões, a última delas de 2009 até 2012. O fraco desempenho da oposição, desde sua saída do governo, permitiu uma série de vitórias eleitorais do partido de Abe. 


O professor Hiroyuki Kishi, da Universidade de Keio, ex-ministro do comércio, falou para a Bloomberg que o resultado da falta de debate foi a “falha no avanço de reformas e políticas ineficientes contra o coronavírus”.


Caso Abe tenha que deixar o governo, o provável novo primeiro-ministro deve ser o atual ministro das finanças, Taro Aso, que ocupou o cargo por um ano, entre 2008 e 2009. 


Sobre o autor - Yukio Spinosa é jornalista, intérprete, tradutor e consultor para prospecção de produtos da indústria japonesa. Ele escreve na coluna Conexão, no jornal A Tribuna, quinzenalmente.


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