Conexão Japão: Economia se recupera enquanto tufões não chegam

Caminhamos para metade do mês de agosto e um atraso dos tufões em território japonês torna-se cada vez mais atípico

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  17/08/20  -  23:46

Vivemos o início do abrandamento da segunda onda da pandemia da covid-19 no Japão. O índice Nikkei, da bolsa de valores de Tóquio, teve a maior alta em seis meses, retornando ao patamar pré-pandemia na quinta-feira, dia 13. As empresas cujas ações mais cresceram nos últimos meses são de equipamentos de precisão para controle de qualidade, equipamentos eletrônicos (gadgets) e a indústria farmacêutica. 


Um dia após a Rússia anunciar uma vacina para a covid-19, o laboratório Fujifilm Holdings pronunciou-se sobre a expectativa de concluir testes clínicos do antiviral Avigan no início de setembro. A eficácia do medicamento foi anunciada em março, época em que havia poucos casos da doença, portanto menor chance de testes do medicamento no Japão.


Apesar do estado de emergência declarado na província de Aichi, a ausência de turistas internacionais e pouca movimentação no comércio local, um outro fator pode estar contribuindo para a recuperação econômica do país, em plena pandemia da doença respiratória causada pela nova mutação do coronavírus. Caminhamos para metade do mês de agosto e um atraso dos tufões em território japonês torna-se cada vez mais atípico. 


Ventos com potencial de destruição, visíveis em imagens de satélites, são substantivados de acordo com sua posição no globo. Furacão no Oceano Atlântico, ciclone tropical na linha do Equador e tufão no Norte do Oceano Pacífico. 


Em outubro de 2019, diversos setores da economia japonesa tiveram prejuízos após o tufão Hagibis destruir 85 mil moradias, transbordar 300 rios e inundar 25 mil hectares de terras no leste e nordeste do país, matando 91 pessoas. 


Em um pacote de medidas lançado em março, o governo japonês mudou o termo “advertência de evacuação” para “ordem de evacuação”, em casos de desastres naturais. Não foi uma mera alteração de palavras. O gabinete do primeiro-ministro aumentou o orçamento para lidar com os desastres naturais em meio à pandemia, em 4,7 trilhões de ienes (R$ 236 bilhões).


A previsão da agência de metereologia do Japão (JMA) para aos próximos quatro dias mostra ausência de ciclone acima da linha do Equador, onde a corrente fria encontra-se com a alta temperatura, ocasionando o movimento circular e curvilíneo que viaja em mar e terra até perder força e desaparecer. 


O Extremo Oriente da Ásia é anualmente atingido por tufões. O vento tornou-se parte da cultura do país, chegando a ser adorado como uma divindade pela religião nativa, animista e naturalista, o xintoísmo. O termo “kamikase”, que significa “vento sagrado”, é constante na história do Japão, servindo para descrever a tempestade que varreu a frota do general molgol Kublai Khan no Mar do Japão, em suas tentativas de invadir a nação nipônica duas vezes no século 13, em 1274 e 1271. 


Quando o fenômeno natural choca-se ao arquipélago, temos desastres naturais como os eventos do ano de 1959, quando 5 mil pessoas perderam suas vidas após ondas gigantes na Baía de Ise inundarem a península de Chita, onde encontram-se as localidades históricas de Tokoname, Taketoyo e Handa. Na época, o prejuízo foi estipulado em 261 milhões de dólares.


A bacia do Pacífico é a região de ciclones tropicais mais ativa do planeta. Eles originam-se nas Filipinas, passam por Taiwan, percorrem centenas de quilômetros sentido Norte, até o arquipélago de Okinawa, e chegam à ilha principal do Japão, algumas vezes passando sobre áreas urbanas de alta densidade demográfica, como Fukuoka, Osaka, Aichi e Tóquio. No entanto, em 2020, pela primeira vez desde o início dos registros pela JMA, em 1951, nenhum tufão atingiu o arquipélago. Normalmente, pelo menos três tufões atingem o Japão no mês de julho. As Filipinas tiveram apenas dois ciclones no mesmo período.


Sobre o autor - Yukio Spinosa é jornalista, intérprete, tradutor e consultor para prospecção de produtos da indústria japonesa.


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