Conexão Japão: Aprovação do governo despenca

Queda de 63% para 38% na aprovação do governo de Yoshihide Suga tem vários fatores

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  06/01/21  -  20:46

Uma intrincada combinação de fatores está derrubando a popularidade do primeiro-ministro Yoshihide Suga, 72. A terceira onda da epidemia no país, o impasse sobre o cancelamento do programa de incentivo do governo ao turismo doméstico, a descoberta de um caso da variante da covid-19 em Tóquio e, ainda, o mau exemplo do jantar do premiê com celebridades em recinto fechado foram péssimas manchetes para o governante, que tomou posse em setembro. Mas a causa da queda de aprovação do governo Suga de 63% para 38% tem também outras razões.


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O escândalo conhecido como “hanami” – quando seu antecessor, Shinzo Abe, promoveu um banquete para celebridades e apoiadores do governo, o qual valor e lista de convidados foram omitidos da imprensa nacional e quando o atual primeiro-ministro era o chefe do gabinete de Abe – também colabora para a mudança de opinião dos japoneses. Mas este ainda não foi o principal fator.


O índice de aprovação do governante era alto em setembro. Aclamado por sua origem humilde e competência, tinha 63% nos primeiros dias de governo. Sua aprovação caiu para 38% no início da última semana. O motivo da rejeição é o papel que Suga supostamente desempenhou numa rede de troca de favores quid pro quo, ou seja, de “toma-lá-dá-cá”, um tráfico de influência e propina, corrupção envolvendo apoiadores da administração Abe e o ex-ministro da Agricultura, Silvicultura e Pesca, Takamori Yoshizawa, 70.


De acordo com a manchete da agência de notícias Kyodo News, o ex-ministro pode ter aceitado dinheiro vivo em suposto suborno da produtora de ovos Akita Foods. Vinte dias após a veiculação desta história na mídia, Yoshizawa renunciou não apenas ao cargo de ministro, mas também ao de parlamentar.


No dia 31 de dezembro, Suga apareceu para uma rara entrevista coletiva com brilho de suor no rosto. A imagem acentuou o momento de fraqueza pelo qual o atual premiê atravessa. Num discurso sobre a importância da prevenção ao aumento da epidemia de coronavírus no país, o líder do governo respondeu a duas perguntas dos jornalistas, sendo que a segunda resposta foi a igual a da primeira, e se retirou.


O político tem sido atacado de todos os lados. Até mesmo o presidente da Toyota Motors, Akio Toyoda, 64, criticou a decisão do governo japonês de cessar a produção de carros movidos a combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, a partir do ano de 2035.


Se não bastasse a baixa aprovação, o índice de rejeição aumentou de 13% para 40%. A continuidade do programa de incentivo ao turismo doméstico, a campanha “Go to Travel”, iniciou a onda de oposição ao governo, com críticas nas mídias sociais. Após uma japonesa que esteve na África do Sul ser diagnosticada com esta variante do vírus, no início da semana, o governo decidiu fechar o país completamente para a entrada de turistas estrangeiros de todos os países. Esta medida drástica, tomada há menos de oito meses dos Jogos Olímpicos, revela a expectativa da aprovação da vacina contra a covid-19 da gigante da indústria farmacêutica americana Pfizer, que tem fábricas no Japão, na primavera, ou seja, no final de fevereiro.


O governo Suga ainda tem chances de recuperar a credibilidade, com boas notícias como o acordo comercial com o Reino Unido pós-Brexit, que remove tarifas dos produtos da agricultura do Japão e gradualmente reduz as tarifas sobre carros japoneses ao país insular do Atlântico Norte. No entanto, politicamente, com seus pontos fracos em evidência, Suga pode não ser capaz de convocar eleições gerais antecipadas em 2021 e o Partido Liberal Democrata (Jiminto) corre o risco de ter de passar o governo do país à oposição após as eleições de outubro.


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