Conexão Japão: A terceira onda

O Japão está atualmente passando pela terceira onda de coronavírus, com 3.199 novas infecções registradas apenas no dia 17 de dezembro

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  23/12/20  -  18:16
Conexão Japão: Ex-premiê Abe enfrenta sabatina
Conexão Japão: Ex-premiê Abe enfrenta sabatina   Foto: Unsplash

A temperatura amena do início de outono e, na sequência, as festas de Halloween, um hit no Japão, concomitantes ao estresse acumulado desde o verão, foram um convite a reuniões de associação de bairro em treinamento para desastres naturais. A conversa entre as vizinhas durante a distribuição dos mantimentos estocados no depósito de emergência, idas à lojas de departamento, passeios em parques públicos, ou seja, interação entre pessoas. Quando isso acontece numa época de epidemia generalizada, o número de casos aumenta. Foi inevitável. O Japão está atualmente passando pela terceira onda de coronavírus, com 3.199 novas infecções registradas apenas no dia 17 de dezembro. 
Em comparação com o Brasil, o número pode parecer baixo. Mas foi a primeira vez que a marca dos 3.000 registros foi confirmada no Japão. 


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Desde o início do problema, no primeiro trimestre, o povo do país do extremo Oriente, acostumado com epidemias como a gripe influenza e a presença da alergia provocada pelo pólen do cedro (kafunsho), tem tomado os devidos cuidados para evitar o agravamento da situação. No entanto, a segunda onda aconteceu no verão, com a marca de 1.763 casos. Após sete semanas com menos de 100 casos no país inteiro, do dia 7 de maio a 25 de junho, eventos, passeios e aglomerações voltaram a acontecer. 


A segunda onda foi assustadora, com mais de o dobro de casos que o maior registro antes da sociedade conseguir controlar a disseminação. 


Com cada temporada propícia a eventos ou feriado prolongado a causar uma nova onda de epidemia, se a quarta onda não surgir no feriado de final de ano, surge na Golden Week, em maio. A próxima onda seria provavelmente nas Olimpíadas. Uma vez que turistas, atletas e a mídia do mundo inteiro estarão no arquipélago, sem a necessidade de quarentena, as consequências podem levar o Japão ao nível alto de infecções e mortes dos principais países da Europa com populações menores, como a Espanha, com 47 milhões, onde 37% da população já contraiu o vírus (1,27 milhões), e a Itália, com 60 milhões, onde 39% foram infectados (1,51 milhões). 


A situação no Japão, com seus 125 milhões de habitantes e 121 mil casos registrados, o que equivale a apenas 1,03% da população, assemelha-se à da França, onde entre os 67 milhões de habitantes, 55.600 pessoas foram infectadas, ou seja, 1,2% do total.


O Japão foi contemplado pelo Google com o serviço de previsão de casos – uma ferramenta de inteligência artificial que antecipa os próximos 28 dias, baseando-se num intricado cruzamento de dados fornecidos pelas autoridades do país e da Organização Mundial de Saúde. A projeção mostra aumento exponencial de casos até o final de dezembro. 


Dados de uma pesquisa por telefone, encomendada pelo jornal Asahi Shimbun, mostram que 70% dos pesquisados são contrários à campanha “go to travel”, que incentiva o turismo interno. O governo oferece um subsídio para quem vai viajar. 


A divulgação do aumento de casos na ilha de Hokkaido, um dos principais destinos domésticos, pode ter influenciado a opinião negativa quanto ao programa. Em Hokkaido, a infecção aumenta desde o início, sem apresentar fases de sucesso na contenção.


A economia japonesa apresenta franca recuperação. No entanto, devido à crise, são as exportações que se restabelecem primeiro. Em outubro, a saída da indústria manufatureira voltou ao patamar pré-pandemia. De acordo com dados do ministério da economia, comércio e indústria, exportações para a Ásia, que tiveram queda entre março e agosto, aumentaram em 4,4%. 


“Os últimos resultados mostram que as exportações do Japão estão a melhorar vigorosamente, refletindo o movimento da economia global em direção ao seu estado normal mais rápido que o esperado”, diz Takeshi Okuwaki, economista do instituto de pesquisas Dai-ichi Life, para o jornal Japan Times.


Sobre o leitor - Yukio Spinosa é jornalista, intérprete, tradutor e consultor para prospecção de produtos da indústria japonesa. Ele escreve na coluna Conexão, do jornal A Tribuna, quinzenalmente.


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