Conexão Japão: A política na defesa das minorias étnicas

Povos asiáticos tendem a procurar apoio de cidadãos, governo e instituições do Japão quando têm direitos humanos violados

Por: Yukio Spinosa - De Nagoia  -  05/04/21  -  21:10
Conexão Japão: Ex-premiê Abe enfrenta sabatina
Conexão Japão: Ex-premiê Abe enfrenta sabatina   Foto: Unsplash

Nas horas que sucederam ao golpe perpetrado pelas forças armadas em Myanmar, as redes sociais de veículos da mídia japonesa foram inundadas por denúncias e clamores por socorro de cidadãos desesperados antes de terem sua internet bloqueada. Independente do país em que estão suas terras, os povos asiáticos tendem a procurar apoio de cidadãos, governo e instituições do Japão quando têm liberdade cerceada e direitos humanos violados por governos tirânicos.


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Isto acontece pelo fato de o Japão ser uma das mais antigas democracias da Ásia, com eleições livres e justas, estado de direito, plenos direitos civis e liberdade de imprensa. No entanto, a diplomacia japonesa está sendo cobrada sobre sua adesão às sanções que os Estados Unidos e a União Europeia submeteram à China, com relação às violações de direitos civis do povo Uigur da província de Xinjiang nas últimas décadas.


Nos próximos dias, o Ministério das Relações Exteriores e a cúpula do governo japonês devem tomar a decisão sobre o que é mais importante, o bom relacionamento com a poderosa economia do país vizinho ou a justiça social para o povo sofrido, islâmico, minoritário e que, após o fim da Segunda Guerra Mundial, viu seu território tornar-se parte da China de Mao Tse Tung.


A impressão é que a revolução cultural chinesa continua em plena marcha sobre os Uigures. Sua própria cultura, música, culinária, folclore devem ser esquecidos. Em seu lugar, imposta é a cultura chinesa materialista moderna. E aqueles que não aceitam são encaminhados aos centros de adequação social, onde são reeducados para pensar como chineses Han, a etnia predominante, não mais como filhos, netos e descendentes da milenar cultura uigure da Ásia Central.


Em Xinjiang, as famílias de Uigures que se adaptam à cultura dos colonizadores chineses conseguem prosperar. Já aqueles que, por orgulho nacional e credo religioso, preferem se opôr às ordens do partido comunista, passam a viver uma realidade orweliana, que remonta à total vigilância e ao controle do pensamento como a estória narrada pelo escritor inglês, autor da obra clássica “1984”.
O Japão já levantou sanções contra outros países da Ásia, como a Índia, após testes de armamento nuclear em maio de 1998, terminando em 2001; a Russia, em 2018, após o conflito no Estreito de Kerch, ocasião da anexação da península da Crimeia; e a Coreia do Norte, após testes de mísseis intercontinentais que sobrevoaram o arquipélago japonês de 2016 em diante.


Com relação à China, enquanto Washington declara claramente que “as violações dos direitos humanos pela China constituem genocídio”, o governo do Japão tem um julgamento reservado. “Nós não fomos capazes de confirmar casos de supressão dos direitos humanos”, disse um representante do Ministério das Relações Exteriores do Japão ao jornal Yomiuri Shinbum.


A ênfase na diplomacia sobre direitos humanos, uma marca do governo Joe Biden, está desencadeando preocupação dentro do Partido Liberal Democrata, que governa o Japão. Relutante em seguir a tendência ocidental, temendo a degradação das relações com a China, o Japão encontra-se pressionado a escolher um dos lados. Existem questões que podem levar o Japão de juiz à réu, listadas em relatório da Organização das Nações Unidas de 2014. Trata-se da disseminação de discursos racistas, discursos de ódio dirigidos à minorias que vivem no Japão, a presença de placas com os dizeres “local apenas para japoneses” e a proteção insuficiente nas leis civil e penal para vítimas de preconceito racial.


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