Conexão Japão: A política do isolamento da China

Governo do Japão propõe uma economia de menor dependência do país vizinho

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  24/04/20  -  20:57
Conexão Japão: A política do isolamento da China
Conexão Japão: A política do isolamento da China   Foto: WANG ZHAO/AFP

Era uma tarde de inverno em Tóquio, no ano de 2012. Figura pública no Japão, o afamado conservador Makoto Sakurai discursa para um auditório entusiasmado. O atual primeiro-ministro Shinzo Abe, do Partido Liberal Democrata, acabava de ser eleito para o primeiro termo, após ter de deixar o cargo por motivos de saúde.


Substitui o líder da oposição, o Partido Social Democrata, que deixava o poder após três anos no governo. Entre elucubrações e piadas preconceituosas, uma total ruptura com a China é citada, ainda que un passant, um desejo óbvio da extrema direita nacionalista do Japão.


A conversa era fruto das manifestações ocorridas na China no ano de 2010, quando todas as principais cidades chinesas tiveram passeatas anti-Japão, organizadas pelo Exército de Libertação do Povo, o PLA, como são chamadas as forças armadas daquele país. Era o auge da disputa sobre as Ilhas Senkaku, entre Okinawa e Taiwan, no Oceano Pacífico. 


Passados anos após tais acontecimentos, no pico desta pandemia da nova mutação do coronovírus, o governo do Japão propõe uma economia de menor dependência do país vizinho, para que a nação seja menos vulnerável à interrupções de suprimentos de insumos e produtos básicos.


No maior país do continente asiático, há um amplo espectro de opiniões sobre essa tendência já adotada pelo Japão, e que encontra simpatizantes ao redor do mundo. Porém, a posição mais alinhada com o seu governo é afirmar que “os EUA e o Japão querem impedir o desenvolvimento da China”.


A fabricante de cosméticos e produtos de saúde Iris Ohyama é a primeira empresa a aceitar a ajuda financeira do governo para tirar suas linhas de produção do país onde surgiu o coronavírus, como parte da política “shift away from China” (mude-se da China). Entre seus produtos, estão as máscaras faciais, item de primeira necessidade no Japão atualmente.


No auge da guerra comercial entre China e Estados Unidos, empresas como Amazon, Dell, Hewlett Packard e Microsoft juntaram-se ao êxodo de fabricantes de produtos eletrônicos, que agora deixa o parque industrial chinês. “Agora não é mais culpa de Donald Trump. É o coronavírus chacolhando tudo”, afirma o colaborador sênior da revista Forbes Kenneth Rapoza. 


O Japão anunciou, no dia 13 de abril, que vai destinar mais de US$ 2 bilhões para ajudar suas firmas a retornarem ao país ou moverem a produção para nações do sudeste asiático. A medida de alto custo e de difícil implementação é tomada simultaneamente por corporações americanas e japonesas.


Durante décadas, a China conseguiu industrializar-se e tornar-se um centro de manufatura graças à presença, ao know-how e à transferência de tecnologia de especialistas do mundo inteiro. Agora, o modelo de globalização está mudando e o país que almejava ser totalmente industrializado no ano de 2050, agora deve repensar suas estratégias.


A nova posição do Japão surge após o líder do partido comunista e presidente da China, Xi Jing Ping (pronuncia-se Zi Jinping), ter seu encontro com o premiê japonês adiado pela crise da pandemia. Xi chegou a declarar que este seria o início de uma nova era nas relações sino-japonesas.


Para Katsuji Nakazawa, do Nikkei Asian Review, o setor de negócios da segunda maior economia do mundo entende que a decisão de deixar a China é uma medida de segurança nacional do Japão, para proteger suas supply chains. Mas, a história ganha conotação e significado diferente, dependendo de quem a conta e de quem a ouve.


Logo A Tribuna
Newsletter