Conexão Japão: A imbecilização da juventude

Nesta edição da coluna, Yukio Spinosa fala sobre a nova vida profissional dos jovens japoneses

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  14/12/18  -  20:48
  Foto: Pixabay

Com seus nomes nas primeiras colocações dos vestibulares, os descendentes de japoneses são conhecidos no Brasil por sua diligência durante a vida escolar e distinção no mercado de trabalho. Porém, no Japão contemporâneo, nem sempre é assim. Aquele sonho comum dos pais, que é ver um filho tornar-se “alguém na vida”, termina quando ele abraça uma vaga de “free-time”, serviços sem vínculo empregatício. Ou seja, passa a viver de “bicos”, após desistir de completar o ensino médio.

O sistema de educação sem reprovação forma jovens muito diferentes do estereótipo de japonês inteligente. Se por um lado a homogeneidade produz igualdade social, seu subproduto vitimiza as crianças ao vilipendiar sua autenticidade, criatividade e auto-estima, forçando-as, assim como os ideogramas chineses que têm ordem correta para serem traçados, à padronização. Aqui, cabelos claros são tingidos de preto e o bullying pode começar após a construtiva crítica de um professor.

Os pais ausentes, dedicados ao trabalho, não percebem o que se passa na escola. O suicídio está a espreitar a infância. Em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou relatório que aponta média anual de 4.600 mortes por suicídio, e 157 mil registros de automutilação em jovens de 10 a 24 anos, um número assustador.

Após seis anos de ensino fundamental (shogakko) e três de ensino médio (chuugakko), quem não desistiu ao término do período obrigatório, talvez perceba seu atraso durante a “high school” (kookoo), quando têm a possibilidade de entrar num curso técnico. Uma teoria da conspiração sugere que a necessidade por mão de obra obediente está por traz da apatia e personalidade tímida do japonês comum.

Para explicar essa tendência, teorias esdrúxulas aparecem. Culpa-se a associação dos professores Nikkyoso, uma organização que executaria ordens vindas do exterior, mais especificamente das forças de apoio estratégico (SSF) do Exército da Libertação Popular (PLA) da China, para destruir o futuro do país. Tudo teria começado no imediato pós-guerra, quando o quartel-general das forças aliadas de ocupação (GHQ) governou por sete anos, queimou livros, censurou o orgulho patriótico em todas as plataformas, cooptando japoneses instruídos para construir a versão da História que lhes interessava.

Outra teoria aponta a mídia como agente imbecilizador, a serviço do capital internacional, desinformando, forjando fabricações e, por incrível que pareça, cobrando para isto. Fatos: a NHK exige cinco mil ienes como pagamento mensal por sua difusão; até 2012, a tevê sequer veiculava o próprio hino nacional.

Porém, a tendência à imbecilização é mundial. Para agravar, a presença de gadgets, como smartphones, e aplicativos, a exemplo do TikTak, prendem a atenção e o tempo de estudo esvai-se em vídeos de entretenimento. Rolando os conteúdos aplicativo abaixo, sem perceber, logo estarão fazendo o mesmo, tentando viralizar e, a qualquer interação, a sensação ilusória do sucesso momentâneo corrompe a criança inocente em busca de companhia para brincar.

Em suma, usada em demasia desde a tenra idade, a tecnologia acarreta consequên-cias ruins. Para ilustrar, simplificar um sentimento em um simples “emoji”, neologismo que surgiu da junção das palavras “emoção” e “kanji” (ideograma), pode ser mais fácil do que escrever. Mas praticidade tira a oportunidade de descrições originais dentro da comunicação diária. O resultado é que uma pessoa com vocabulário de 500 palavras é totalmente funcional, capaz de executar tarefas como um robô, só que mais barato.

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