Conexão Japão: À beira do estado de emergência

Governo do Japão continua sendo criticado por sua lenta resposta à emergência global causada pela pandemia de coronavírus, o Covid-19

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  13/03/20  -  22:50

Mesmo tendo suspendido as aulas do Ensino Fundamental e Médio um mês antes da férias escolares, o governo do Japão continua sendo criticado por sua lenta resposta à emergência global causada pela pandemia de coronavírus, o Covid-19. Com as olimpíadas em risco de cancelamento, ações em baixa e pânico criado por notícias falsas sobre racionamento de mantimentos circulando no Twitter, o governo já tem o estado de emergência pronto para ser declarado.


Contra a medida está a oposição ao governo, liderada pelo Partido Social Democrata (PSD), que declara que haverá interferência na liberdade individual dos cidadãos japoneses e estrangeiros residentes, interpretando a quarentena preventiva como confinamento obrigatório imposto pelo governo. Parte da imprensa usa o termo “draconiano”, para descrever as próximas ações do governo.


Até o momento, o país não promove exames generalizados em toda a população, como acontece na Coreia do Sul. No entanto, o anúncio da criação de um kit de exame de coronavírus já foi feito e logo pode ser implementado. 


Para a economia, a medida seria desastrosa, uma vez que os dois principais índices da bolsa de valores de Tóquio, o Topix e o Nikkei 225, fecharam em queda de -4% ontem, acompanhando os mercados em âmbito global. As empresas seriam forçadas a dar folga aos trabalhadores e as linhas de produção parariam. 


Nesse caso, o consumo não aumenta, exceto quando “fake news” são disseminadas, levando as pessoas a comprar ítens de primeira necessidade. Na semana passada, além de máscaras e álcool em spray, o papel higiênico sumiu das prateleiras de farmácias e supermercados. O causador de toda a histeria foi um funcionário de uma fábrica do produto da província de Shizuoka. Ele postou no Twitter, falsamente, que a matéria-prima do papel acabaria, pois vinha do país do continente. No momento ele se encontra preso.


Se o cancelamento das aulas das crianças já trouxe estresse para as mães, principalmente as que trabalham, e se as empresas forem impedidas de funcionar, a pressão sobre o governo será um grande desafio para o governo do premiê Shinzo Abe, que ultrapassa a marca histórica de três mil dias no poder. 


Excluindo os 696 casos e 7 mortes dentro do navio de cruzeiro Diamond Princess, o país conta 645 infectados e 16 mortes até a noite de quinta-feira (12). As localidades mais afetadas são a ilha de Hokkaido, ao norte do arquipélago, com 118 casos e, em segundo lugar, a província de Aichi, onde moram cerca de 50 mil brasileiros, com 104 casos confirmados. Nenhum brasileiro está infectado.


A província de Aichi é onde fica a cidade de Okazaki, que recebeu recentemente 40 pacientes para serem tratados no centro de tratamento do hospital da universidade de Fujita. Há 19 quilômetros de Okazaki, na cidade de Gamagori, um cidadão com cerca de 50 anos chocou a opinião pública quando, sabendo que estava infectado, resolveu, deliberadamente, espalhar o vírus. Ele foi a um snack bar cheio de clientes e hostess, mulheres que incentivam o consumo dentro do estabelecimento. Ao saber da situação, o gerente chamou a polícia e o doente foi preso.


Enquanto não entra em uma nova fase no combate à epidemia, a política do governo se restringe a fornecer informações e encorajar as pessoas a manterem-se calmas, agirem com responsabilidade e evitarem sair de casa se estiverem com febre. Estímulo ao teletrabalho, descanso remunerado aos trabalhadores com sintomas suspeitos e cancelamento de eventos e festivais regionais também são alguns dos pedidos feitos, antes da declaração do estado de emergência.


Se o parlamento votar pela medida, o anúncio será realizado pelo primeiro-ministro no sábado.


Sobre o autor


Yukio Spinosa é jornalista, intérprete, tradutor e consultor para prospecção de produtos da indústria japonesa. Ele escreve quinzenalmente na coluna Conexão Mundo, do jornal A Tribuna.


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