Conexão Irlanda: Retrocesso de carona na nostalgia

Nesta edição da coluna, Camila Natalo fala sobre a ida do presidente Donald Trump ao país irlandês nesta quarta-feira

Por: Camila Natalo - De Dublin  -  05/06/19  -  17:32

No dia 24 de maio, o grupo britânico pop Spice Girls apresentou-se em Dublin no primeiro show de sua turnê de reunião. Além delas, outros ícones pop dos anos 90 estão voltando aos palcos embalados nessa nostalgia: Westlife, Backstreet Boys, Take That… Até mesmo aí no Brasil, Sandy & Júnior também têm shows esgotados, não é mesmo?


E por falar em nostalgia, nesse desejo de voltar no tempo, nessa mistura de melancolia e regresso, é preciso dizer que essa questão possui seus perigos. Isso porque, atualmente, existem muitos defensores de discursos racistas, de misoginia e homofobia, por exemplo, com saudade da época em que tais coisas eram aceitas e não eram nem mesmo discutidas… Há, inclusive, aqueles que têm saudade da ditadura, os que negam a existência do holocausto e até mesmo alguns que acreditam que a Terra é plana. É o retrocesso de carona na nostalgia.


E nessa onda disfarçada, foram eleitos líderes de estado ao redor do mundo. Donald Trump, um destes representantes do retrocesso, desembarca nesta quarta-feira na Irlanda para uma reunião com o primeiro-ministro Leo Varadkar. As visitas fazem parte das comemorações do 75º aniversário do “Dia D”, quando as forças aliadas invadiram a Normandia ocupada na Segundo Guerra Mundial, o que se considera o fim do domínio nazista na Europa.


Embora não exista a previsão de que ele apareça por Dublin, os organizadores da coligação “Stop Trump Ireland” irão protestar no Garden of Remembrance (Jardim da Recordação) durante a tarde de quinta-feira. Mais de 30 organizações, incluindo as de direitos humanos, meio ambiente, anti-racismo, antiguerra, LGBTQ, igualdade, mulheres e imigrantes, vão aderir aos protestos.


Durante uma declaração feita na véspera da visita de Trump, o presidente da Irlanda, Michael D. Higgins, sem citar o nome do presidente, afirmou que “os Estados Unidos estão se comprometendo com uma decisão regressiva e destrutiva no que diz respeito à retirada do acordo climático”, decisão tomada há pouco mais de um ano pelo republicano.


Em visita à Inglaterra, o presidente dos Estados Unidos encorajou o Brexit e ainda recomendou que o Reino Unido deixe a União Europeia mesmo sem acordo e sem pagar a dívida de US$ 50 bilhões que deve ao bloco.


Além das tensões que se referem ao Brexit e ao Acordo Climático de Paris, o norte-americano ainda trocou ofensas com o prefeito de Londres, Sadiq Khan, pelo Twitter. Após o artigo de Khan no jornal dominical The Observer, que retratava Trump como um dos mais notórios exemplos de uma crescente ameaça global, sendo um dos líderes que têm usado as mesmas formas de expressão divisivas utilizadas pelos fascistas do século 20, Trump o chamou de perdedor frio, dizendo que ele deveria se preocupar mais com a criminalidade em Londres do que com ele (Trump).


Recentemente, um pastor do estado do Arizona, que expressa ideias homofóbicas e antissemitas “pregando” o ódio, tornou-se a primeira pessoa a ser banida da Irlanda nos últimos 20 anos. O quão longe as ideias preconceituosas do pastor estão de discursos xenofóbicos e misógenos que ouvimos de Trump e outros líderes?


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