Conexão Irlanda: Então é Natal

Nesta edição da coluna, Camila Natalo fala sobre o clima no país nessa época do ano

Por: Camila Natalo - De Dublin  -  20/12/18  -  15:11
  Foto: AFP

Com a passagem do Halloween no fim de outubro, o Natal já começava a dar as caras em Dublin. Os comércios já vendiam diversos produtos típicos, como os christmas puddings, uma espécie de bolo com frutas secas, especiarias, melado preto e álcool – aqui dá para encontrar até pudding feito com a famosa Guinness; as mince pies, tortinhas doces, que antigamente tinham carne no recheio, mas atualmente possuem só frutas secas e especiarias; os inúmeros kits de presentes; caixas de chocolates, de biscoitos; e os advent calendars, calendários tradicionais com 24 quadradinhos, como se fosse uma contagem regressiva para o Natal, contendo em cada quadradinho de chocolates a presentinhos, perfumes, cosméticos.


Na primeira semana de novembro, os comércios e a maioria das casas já estão todos enfeitados e, lá pelo meio do mês, as luzes de Natal são acesas em Dublin. Ainda no início de dezembro, começam os Christmas Market – feiras de Natal, com comidas típicas, decorações, artesanatos; as confraternizações nas empresas. Até mesmo os carros ganham adereços!


Por aqui, a Mariah Carey é uma espécie de Simone quando se trata da trilha-sonora da época, e existem hits natalinos para dar e vender.


O clima, então, nem se fala. Se aqui o sol já não dá muito as caras, mesmo em estações consideradas mais quentes, nesse período o inverno começa a ficar mais rigoroso, as temperaturas começam a cair mais e os dias ficam curtos: para se ter uma noção, às oito horas da manhã, o sol está começando a nascer, enquanto a partir das quatro da tarde, ele já está indo embora. Durante a semana, por exemplo, eu e o sol costumamos trabalhar no mesmo horário e, portanto, só o vejo nos fins de semana.


Neste ano, durante uma confraternização de Natal da empresa, tive a oportunidade de vivenciar um pouquinho do que costuma ser uma tradicional festa natalina irlandesa: uma ceia farta, com peru, presunto (não o nosso presunto cozido em fatias, mas a peça inteira), frango recheado com cebola e tomilho, purê de batatas, purê de cenoura e couve-de-bruxelas, sem esquecer do molho de carne, o gravy.


Ao lado de cada prato, um christmas cracker – uma espécie de embrulho em forma de um bombom gigante, que contém uma mensagem ou uma piada, uma coroa de papel (usada durante o jantar) e um brinquedinho. Pela tradição, duas pessoas seguram as pontas (uma de cada lado), cruzam os braços e puxam até estourar. O lado que estourar, fica com a surpresa. Pela mesa, uma imensidão de biscoitos e chocolates tradicionais e, de sobremesa, bolos e, claro, o christmas pudding. Para ser mais fiel que isso, só faltava a missa tradicional da meia noite, mas ela só acontece no dia 24 de dezembro.


Porém, no meio de todo esse clima, literalmente, bem diferente do nosso, uma coisa não sai da mente: por mais que a mágica desta época do ano esteja em todo o lugar, quando você está longe das pessoas com quem você mais se importa, e que se importam com você, de certa forma, a data perde um pouco de significado. O frio fala mais alto do que toda a decoração bonita e todos os presentes bacanas que são acessíveis. E, então, você se vê presente de corpo em um lugar e com a mente em outro.


Das coisas que aprendemos com esse tipo de experiência, longe das pessoas queridas, está o porquê dessa data ser tão especial. Não depende de presentes, mesa farta, status. Coisas materiais são apenas coisas. E o Natal, pelo menos para mim, é comunhão e aproveitar o tempo e a companhia de quem se ama. E a cada ano longe, o menos vira mais e ter a oportunidade de estar com sua família durante esses tempos é ter de volta o real brilho da celebração.


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