Conexão Irlanda: Emergência climática: Do papel à realidade

Na edição da coluna, Camila Natalo fala sobre o país ter se tornado o segundo do mundo a declarar emergência climática e de biodiversidade

Por: Camila Natalo - De Dublin  -  23/05/19  -  01:55

Em uma decisão unânime tomada pelo Parlamento Nacional da Irlanda, o país tornou-se o segundo do mundo a declarar uma emergência climática e de biodiversidade, seguindo os passos do Reino Unido. A declaração ocorreu após uma reunião com a ONU, que avisou que poderíamos ter apenas 11 anos para limitar uma catástrofe em relação às mudanças climáticas.


Segundo o ministro da Ação Climática e do Meio Ambiente, Richard Bruton, “estamos chegando a um ponto crítico em relação à deterioração do clima”.


Um especialista em aquecimento global alertou que a Irlanda tem encolhido à medida que partes do país são erodidas a cada ano. A decadência costeira causada por tempestades frequentes e pelo aumento dos níveis de água estão colocando em risco residências e estradas.


Chefe da Guarda Costeira, Karin Dubsky explicou que partes do leste do país estão sob maior risco. “Em algumas áreas, tivemos perdas enormes de dunas e as casas na área costeira, assim como os reservatórios de água, estão sofrendo os impactos das mudanças”.


Segundo Dubsky, embora muitas pessoas que vivem no interior possam não estar plenamente conscientes sobre a gravidade da erosão, os que vivem em áreas costeiras têm relatado problemas. “Para os moradores dessa região, a erosão é a maior ameaça à costa irlandesa hoje”, afirma.


Na costa de Galway, nas ilhas Aran, uma comunidade dividida em três pequenas ilhas, com só 1.300 habitantes, muitos efeitos da mudança climática já são bem sentidos. O presidente da cooperativa de energia das ilhas, Dara O'Maoildhia, reportou que há três anos, mais ou menos, a erosão costeira intensa danificou severamente as principais estradas de uma das ilhas, de Inishmore, que serve de via para ônibus turísticos, bicicletas e cavalos. 


“As pessoas estão preocupadas porque nunca haviam visto níveis de água tão altos ao redor dos portos da ilha. Eu não vi isso em 35 anos vivendo aqui. No ano passado, presenciei duas vezes uma maré tão alta, no nível do píer, com ventos tão fortes que era impossível receber uma embarcação”, revelou Dara.


Segundo ele, na última reforma do píer, há alguns anos, foi calculado um aumento de um metro em relação ao nível mais alto alcançado pelas águas, prevendo as alterações causadas pelo aquecimento global. “O que já não é suficiente”, ressalta.


No verão passado, os agricultores dessas ilhas enfrentaram uma seca e precisaram importar alimentos. Porém, apesar de todas as dificuldades, a população se esforça para combater as alterações climáticas. 


“As pessoas trocaram seus carros convencionais por elétricos, o isolamento das casas foi alterado para reduzir os custos com aquecimento, os painéis solares foram aderidos nos telhados, além de bombas de calor para substituir os aquecedores a óleo. A próxima iniciativa é introduzir turbinas eólicas para garantir que a ilha gere sua própria eletricidade. É um projeto comunitário, do começo ao fim”, concluiu.


Em contrapartida do que acontece nessa comunidade, para alguns irlandeses, a declaração de emergência é patética, devido ao histórico político de postergar os compromissos do país para reduzir as emissões de carbono. 


Ainda durante a declaração, a vice-líder do Partido Verde da Irlanda, Catherine Martin, alegou que é essencial que todos os políticos se comprometam com ações concretas, em vez de se unirem apenas em torno de conceitos vagos. “Há pouco valor nisso sem o compromisso a fazer algo relevante”, concluiu. 


E não só da parte dos políticos. Na opinião dessa jornalista, é preciso que as pessoas mudem radicalmente seu modo de agir, consumir, pois não há emergência no mundo que realmente tenha efeito enquanto não houver uma verdadeira mobilização coletiva.


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