Conexão Irlanda: Ao mestre com carinho

Nesta Edição da coluna, Camila Natalo fala sobre um movimento pelos direitos dos professores no país

Por: Camila Natalo - De Dublin  -  05/12/18  -  19:30
  Foto: Divulgação

Na manhã dessa segunda-feira (3), mais de 100 estudantes estrangeiros da escola de inglês Grafton College, em Dublin, estiveram reunidos nas margens do Grande Canal, próximo à Ponte Portobello, após descobrirem que suas aulas foram canceladas.


Porém, muito mais sério que uma suspensão, professores e funcionários foram informados somente na mesma manhã que a escola declarou falência. Cerca de vinte e cinco docentes não recebem seus salários desde o início de novembro.


Alguns professores ocuparam a escola até a madrugada de terça-feira (4), apoiados pelo Unite, sindicato que protege os direitos dos trabalhadores no Reino Unido e Irlanda, querendo chamar a atenção para a questão das práticas precárias de trabalho na indústria em geral. “A Grafton College é apenas uma de uma série de escolas que tiveram suas atividades encerradas da noite para o dia, deixando professores e alunos na mão”, destacou o diretor de Coordenação Regional da Unite, Richie Browne.


Poucas semanas antes do Natal, trinta e cinco funcionários foram informados que estão desempregados. Segundo a RTÉ News, os professores não têm ideia do que acontecerá e não sabem quando irão receber o pagamento atrasado.


Um dos professores que lecionava na escola, Robert Dunlop, inclusive, se casou nesse último sábado e está esperando o primeiro filho, que deve nascer no final do mês. Ele está com o salário atrasado há dois meses.


Segundo os funcionários, era sabido que o contrato de arrendamento do edifício ocupado pelo colégio estava chegando ao fim e havia planos de mudança. No entanto, não houve indicações de dificuldades financeiras ou fechamento iminente.


Os alunos, entretanto, não serão totalmente prejudicados, já que a maioria dos contratos em escola de inglês possui o <FI10>Learner Protection</FI>, um termo de proteção para assegurar que, caso a escola venha a fechar, o aluno terá seu dinheiro de volta ou, até mesmo, será realocado para uma nova instituição. Segundo a <FI10>Marketing English Ireland (MEI), uma associação composta por escolas de inglês da Irlanda reconhecidas pelo Departamento de Educação irlandês, os mais de 400 alunos estão de “férias forçadas” até que sejam realocados para outras escolas. “O Ministério da Justiça já foi informado da situação para que não haja eventuais problemas com a imigração, vistos e trabalho”, garantiram.


Atualmente, o mercado internacional de ensino de inglês vale cerca de € 762 milhões para a economia irlandesa, de acordo com o Departamento de Educação. Mais de 90% dos estudantes da Grafton são do Brasil, enquanto o restante vem da Mongólia, do México, da Colômbia e da Rússia. A turma brasileira, inclusive, comovida com a situação dos professores, já iniciou uma campanha em uma plataforma de crowdfunding para ajudar os profissionais que estão sem respaldo financeiro.


Se a legislação irlandesa ainda é falha na hora de garantir a segurança e os direitos dos educadores, pelo menos os educandos estão muito cientes da importância e do valor deles, exercendo a solidariedade em um momento tão delicado.


Embora o inverno esteja presente e as temperaturas por aqui estejam caindo cada vez mais, há indícios de que a empatia e o calor humano, típicos brasileiros, vão garantir um Natal feliz e aquecido para todos.


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