Conexão França: Perder sem descer do salto

Nesta edição da coluna, Diana Gonzalez fala como a Copa do Mundo feminina mostra que as mulheres estão batendo um bolão, com profissionalismo acima de tudo, seja dentro ou fora das quatro linhas

Por: Diana Gonzales - De Paris  -  25/06/19  -  17:50

Perdemos, fato, mas de forma honrosa e sem descer do salto, algo que o futebol brasileiro necessitava há tempos. Seja nas conversas entre amigos ou na mídia, estava sentindo falta do nosso futebol ser mencionado pela técnica, força e estratégia. Palavras que têm estado em falta aqui em Paris quando o assunto é futebol masculino. Portanto, muito obrigada, meninas, por melhorarem a imagem do futebol made in Brésil.


Antes da Copa feminina começar, o Brasil chamava mais atenção pelas polêmicas envolvendo seus jogadores do que pelo jogo em si. Porém, apesar de todo o profissionalismo de nossas atletas, vi nos sites brasileiros de notícias comentários machistas de internautas. Coisas do tipo "mulher só fica de chororô" e "futebol feminino é horrível, lugar de mulher é na cozinha".


Lamentável, em 2019, ainda ver esse comportamento dos homens brasileiros. Domingo, no bar em que assisti ao jogo, a maioria dos franceses era formada por homens que torciam veementemente para sua nação. Num momento em que uma jogadora brasileira caiu e ficou no chão alguns minutos, surgiram alguns gritos: "tá imitando o Neymar". Ninguém falou que ela estava fingindo, ou associando isso a uma atitude feminina.


Sim, perdermos e o choro veio. Mas veio no momento certo. E aí tem homem brasileiro que ainda diz que chorar é coisa de "menina"... Seriam os mesmos que passam a mão na cabeça de cada besteira feita pelo "menino" de quase 30 anos?


Ainda tem gente que associa o descontrole ao comportamento feminino, algo difícil de acreditar. Bom, vamos aos fatos. Que tal o choro do Thiago Silva antes dos pênaltis na Copa de 2014? E a meia do Roberto Carlos quando Henry marcou contra o Brasil na Copa de 2006, na Alemanha? E por falar em Alemanha, que tal o 7x1?


E aí alguns homens brasileiros dizem que a Marta tava mais preocupada com batom do que com o jogo? Certo, perdemos desta vez para o time da Henry (Amandine). mas sem descer do salto para arrumar a meia. Perdermos com garra, de batom e avec élégance.


E já que ainda existe homem que acha que lugar de mulher é na cozinha, vamos falar do 7X1, mas na política? Olhemos rapidamente o currículo da chanceler alemã Angela Merkel: formada em química quântica, realizou diversas pesquisas científicas; fala, além do alemão, russo, inglês e francês, e governa um dos países mais poderosos do mundo! Voltemos ao futebol, senão o placar de Brasil X Alemanha vai ficar ainda maior.


De salto ou de chuteiras, fato é que a Copa do Mundo feminina mostra que as mulheres estão batendo um bolão com muito profissionalismo, seja dentro ou fora do campo.


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