Conexão Austrália: Chuva de um lado e incêndio florestal de outro

Nesta edição da coluna, Fabiana Marinelo fala sobre os climas extremos que a Austrália vem passando

Por: Fabiana Marinelo - De Sidney  -  07/12/18  -  16:39
  Foto: AFP

Você até pode não acreditar nas mudanças climáticas e nos efeitos nocivos a todos nós que moramos neste planeta, mas que ela existe, sim, existe. Prova disso ocorreu na última semana na Austrália. Em um único dia, mais especificamente na manhã do dia 27 de novembro, caiu em cima de Sydney dois meses de chuva. O caos foi generalizado.

A cidade praticamente parou com ruas e casas alagadas, pontes interditadas e muitos acidentes de trânsito. Duas pessoas morreram. Não muito longe de Sydney, o estado de Queensland viveu o oposto, com temperaturas subindo de 5 a 10 graus Celsius acima dos recordes históricos. Isso causou incêndios florestais, destruição de casas e muito prejuízo.

Os dois eventos, mesmo em locais distantes, estavam relacionados. A Austrália, há algum tempo, convive com os efeitos das mudanças climáticas extremas. Mas o problema é que a frequência agora é muito maior. O centro meteoroló-gico do país possui um departamento que acompanha eventos drásticos no clima e aponta a ocorrência, cada vez mais frequente, de temperaturas elevadas, fortes chuvas fora de época, alta umidade ou tempo extremamente seco.

Neste último tipo de evento, um pouco antes das chuvas intensas, Sydney enfrentou o que eles chamam de Tempestade de Poeira, um fenômeno natural que enche a cidade de pó vermelho vindo das regiões desérticas da parte central do país. Este ano, a tempestade não foi tão intensa, mas foram enviados alertas aos moradores da região por e-mail e reportagens avisaram sobre os riscos para crianças, idosos e pessoas com dificuldades respiratórias. Há alguns meses, a Austrália também enfrentou uma de suas piores secas, com efeitos devastadores para a agricultura local.

O aumento da intensidade e da frequência de eventos climáticos extremos vem ao encontro de previsões feitas nos últimos anos pelos cientistas. No entanto, até o “ver para crer”, o alerta quanto aos efeitos do aquecimento global parecia um pouco exagerado. Mas agora, de acordo com a opinião de especialistas, a situação é mais preocupante. As previsões são de que as temperaturas vão continuar aumentando e, com isso, os efeitos climáticos serão mais intensos e frequentes.

O centro meteorológico do país já registrou recordes de temperatura em várias regiões. Em Queensland, por exemplo, a região de Mackay chegou a elevados 39,7 °C recentemente. O aeroporto de Cairns registrou 42.6°C. No dia da chuva intensa, a quantidade de água superou os 100 mm, sendo que a média histórica para o mês de novembro é de 66 mm.

Uma semana antes da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), que está sendo realizada na Polônia (da qual o Brasil decidiu não participar), a Austrália viu o aumento dos protestos da comunidade para que o país tome ações mais efetivas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Isso devido à percepção, por parte da comunidade, de que o país poderia ser mais ativo nas questões climáticas.

E mesmo que ainda seja difícil colocar o rastro de destruição na conta do aquecimento global, os efeitos das mudanças climáticas já podem ser sentidos no mundo dos negócios. Além de buscas por alternativas no setor agrícola, por exemplo, cerca de 15 grandes seguradoras mundiais se uniram em torno de um projeto da ONU, para buscar balizar e desenvolver novas ferramentas de avaliação de risco.

Mesmo que a mudança climática ainda cause descrença, a comunidade da Austrália está sentindo na pele – e muitas vezes no bolso – os efeitos do aquecimento global. E pela frequência e poder de destruição cada vez maior, tudo indica que este é um caminho sem volta.

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