Conexão Japão: Oficialmente em crise

No atual estágio da epidemia, que já alcança a marca de 5.500 infectados no país, não é mais possível traçar o caminho da transmissão entre os doentes

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  14/04/20  -  21:44
Conexão Japão: Oficialmente em crise
Conexão Japão: Oficialmente em crise   Foto: STR / AFP

Após seis meses desde que os primeiros casos começaram a ser noticiados pela mídia internacional em Wuhan, o número de infecções por coronavírus continua menor no Japão do que em outros países. No entanto, coincidentemente, após o adiamento dos jogos olímpicos de Tóquio, houve uma disparada na velocidade da transmissão da epidemia nas principais cidades do arquipélago. E na última terça-feira, dia 7, o primeiro-ministro declarou estado de emergência em sete regiões.


No último dia 9, dois dias depois, o governador da província de Aichi, Hideaki Omura, afirmou, em entrevista coletiva, que pediu ao gabinete do governo central a inclusão da região que compreende Tsushima, Nagoya, Toyota, Tokoname, Okazaki e Toyohashi, entre outras cidades, à lista de sete províncias em estado de emergência: Kanagawa, Saitama, Hiogo, Fukuoka, Chiba e Tóquio. O pedido ainda não foi deferido. Segundo Yasuhiko Suga, chefe do gabinete, será encaminhado para a análise por um painel de especialistas.


Não existe imposição por isolamento e distanciamento social. Pelo menos, até agora. Em seu discurso transmitido em todos os canais da rede aberta de televisão, o primeiro-ministro Shinzo Abe falou sobre a importância da conscientização neste momento pelo qual a população do planeta está passando. E anunciou orçamento de 103 trilhões de ienes (R$ 4,8 trilhões) para ajudar as famílias que tiveram sua renda severamente prejudicada pela queda da produção nas fábricas, pelos comércios fechados e por outras disrupções advindas da prevenção contra o vírus.


Em plena campanha eleitoral dentro do Partido Liberal Democrata (PLD), o qual governa o país quase ininterruptamente desde o final da ocupação, a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, criticou as medidas lançadas pelo premiê, considerando-as como “insuficientes” para conter a disseminação das infecções.


No atual estágio da epidemia, que já alcança a marca de 5.500 infectados no país, não é mais possível traçar o caminho da transmissão entre os doentes. O que significa o aumento das infecções pelo ar, por ambientes e aparelhos públicos, como catracas de metrô, portas de banheiros de lojas de conveniência, por exemplo. Koike quer proibir o funcionamento de restaurantes e pachinkos, que são casas de apostas em máquinas de “slot” e outros jogos eletrônicos do tipo “caça-níqueis”, um mau-hábito de muitos japoneses.


Assim como no adiamento das Olimpíadas de 2020 para 2021, a produção da indústria automotiva, uma das principais do país, foi severamente prejudicada por fatores externos, como a interrupção do fornecimento de insumos e peças da China e o cancelamento de pedidos do mercado indiano. Cerca de 20 mil trabalhadores estão sendo forçados a tirar dias de folga remunerada para colaborar com a desoneração nas folhas de pagamento das empresas. 


Em outro anúncio, desta vez voltado às corporações japonesas, o governo compromete-se a ajudar financeiramente, com mais de 250 bilhões de ienes (R$ 11,7 bilhões), as empresas com filiais na China a retornarem sua produção ao país ou emigrar para outras nações da Ásia.


O arquipélago experimenta o pico da epidemia e toma medidas para que o número de casos baixe nas próximas semanas. Mas as consequências para a economia devem perdurar até o final de 2020 e início de 2021, dizem alguns analistas.


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