Conexão Irlanda: Quando um ruído se transforma em barulho

Nesta edição da coluna, Camila Natalo comenta sobre a marcha da Greve Global pelo Clima no país irlandês

Por: Camila Natalo - De Dublin  -  26/09/19  -  18:51

Na última sexta-feira (20), que antecedia a Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), milhares de pessoas, principalmente crianças e adolescentes, participaram em peso da Greve Global pelo Clima, que já é considerada um dos maiores protestos ambientais da história, chamando atenção para mudanças climáticas, aquecimento global e outras pautas que dizem respeito à preservação do meio ambiente. 


Na Irlanda não foi diferente. Em Dublin, com aulas suspensas, crianças, jovens e adultos se uniram na marcha que começou na The Custom House – edifício que abriga o Ministério do Meio Ambiente, terminando na Merrion Square. O movimento global é inspirado por Greta Thunberg, a ativista sueca de 16 anos que ficou conhecida por deixar de ir às aulas nas sextas-feiras e protestar do lado de fora do parlamento sueco, exigindo ações dos políticos de seu país para reduzir as mudanças climáticas. 


Rachel Kingston, de apenas 6 anos, estava acompanhada de colegas da escola e da mãe no protesto em Cork. “É chocante que existam pessoas que não sabem o que está acontecendo. Ou aqueles que se perguntam Quem é Greta Thunberg? A única coisa que me vem à cabeça é Como as pessoas não sabem disso? É importante aumentar a conscientização”, diz ela.


Em resposta ao protesto, o primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar se revelou inspirado pelo fato de milhões de jovens pelo mundo exigirem de seus governos medidas para impedir a mudança climática, além de ressaltar que o governo irlandês já produziu um plano de ação climática que precisa ser implementado. “Isso significa mudar nosso sistema de eletricidade, mudar nosso sistema de transporte, tornar a agricultura sustentável, isolar nossos edifícios. Estou comprometido em fazer isso e ver que tantas pessoas, principalmente jovens, querem que o façamos”, afirmou.


Na segunda-feira (23), na Cúpula do Clima realizada pela ONU, em Nova Iorque, o primeiro-ministro anunciou a decisão da Irlanda de encerrar gradativamente a exploração de combustíveis fósseis, colocando o país entre os primeiros a abandonar a produção de gás e petróleo.


A medida é apoiada por estudos científicos sobre o impacto climático, porém, a busca e extração de gás continuarão permitidas por algum tempo, até que o país mude para uma economia livre de carbono. Organizações ambientais e de desenvolvimento, incluindo o Partido Verde da Irlanda, comemoraram o anúncio. Porém, o diretor da ONG Friends of the Earth, Oisín Coghlan, afirmou que a decisão do primeiro-ministro de não banir também a exploração de gás foi uma oportunidade perdida, já que a Irlanda se tornaria o primeiro país a fazê-lo.


Já comentei em outra ocasião que cada pequena atitude conta, o que me faz refletir que todas as manifestações e todo o barulho dos últimos dias começaram com a atitude de uma única jovem. Como já diria Mahatma Ghandi, outro exemplo de alguém que era apenas um ruído e se transformou em barulho, “seja a mudança que você quer ver no mundo”. 


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