Conexão Austrália: Praias têm redes de proteção contra tubarões

Na grande maioria, há patrulhas na água, na areia e no céu (helicópteros). Colunista Fabiana Marinelo explica a medida

Por: Fabiana Marinelo - De Sidney  -  06/12/19  -  20:30

Aqui na Austrália, muitas praias possuem redes de proteção contra tubarões. Em algumas, existe uma espécie de bolsão, ou “cercadinho” bem perto da areia, onde em geral ficam as famílias e as crianças. Em outras praias, as redes existem, mas ficam mais afastadas, pra dentro do mar. Na grande maioria, há patrulhas na água, na areia e no céu (helicópteros).


Nas primeiras vezes em que fui à praia, ficava na área protegida. Agora, fico fora. Acabei me acostumando. No estado de Nova Gales do Sul (NSW, na sigla em inglês), as redes de proteção cobrem 51 praias, entre Wollongong e Newcastle, incluindo Sydney.


Apesar de darem uma “sensação de proteção”, estudo publicado nesta semana pela revista People and Nature revelou que as redes nas praias de NSW capturam 16 vezes mais espécies não-alvo do que os tubarões a que se destinam. As três espécies-alvo são o grande tubarão branco, tubarões cabeça-chata e tigre.


Dos 395 animais marinhos capturados nas redes de NSW entre 2018-19, 372 – cerca de 94% – foram acidentais (fora da lista alvo). Destes animais, parte está na lista de espécies em perigo de extinção, como os tubarões-cinzentos.


Entre 2015 e 2016, por exemplo, 19 desses tubarões foram capturados, cinco deles mortos e 14 libertados vivos, mas “sua sobrevivência a longo prazo é desconhecida”, observou o jornal. Entre 2017 e 2018, 20 tubarões-cinzentos foram capturados, com 10 encontrados mortos.


Os tubarões brancos, cabeça-chata e tubarões-tigre são reconhecidos internacionalmente como ameaçados ou quase ameaçados. Os tubarões brancos são considerados “vulneráveis” na Austrália e estão sujeitos a um plano de recuperação.


Parte da comunidade local apoia a manutenção da redes, mesmo com os revezes apresentados. No entanto, segundo Leah Gibbs, da Escola de Geografia e Comunidades Sustentáveis da Universidade de Wollongong e principal autora do relatório, “não há realmente nenhuma evidência sólida de que as redes de tubarões sejam eficazes”.


A possibilidade de uma pessoa ser atacada e morrer por um ataque de tubarão é ínfima. As mortes por afogamento nas águas costeiras, que despertam menos atenção, são cerca de 100 vezes mais prováveis do que as motivadas por ataques de tubarão. Mas, sim, há casos.


O número de mortes na média nacional é de cerca de uma por ano. Em NSW, houve 66 mortes e um total de 204 ataques de tubarão nos últimos 150 anos. Nas praias com redes de proteção no estado, ocorreram 24 ataques de tubarão e uma fatalidade desde 1951.


Vale destacar que, mesmo com as redes, as praias não são 100% imunes aos animais, que conseguem muitas vezes transpassar os bloqueios. “É realmente algo mais sobre o senso de segurança das pessoas do que sobre a segurança real”, afirmou Gibbs.


Muito possivelmente, as pessoas não estarão dispostas a perder o senso de segurança que as redes oferecem. Mas o estudo aponta que elas podem estar contribuindo para a redução nos números de espécies marítimas. É claro que os números de tubarões estão caindo. Os pesquisadores apontam algumas causas, como o aquecimento dos oceanos, a pesca marítima e as mudanças no ecossistema.


Outro dado é que, mesmo com o aumento da quantidade de pessoas vivendo perto das regiões costeiras nos últimos anos, não houve um aumento nos ataques. Além das redes, as pessoas na Austrália tem a seu favor as patrulhas marítimas. Grande parte das praias são monitoradas por uma equipe de salva-vidas, equipados com barcos, jetskis e muita tecnologia.


Além das redes possuirem sonares que indicam a presença de grandes animais, drones sobrevoam as praias e, a qualquer sinal de que algum tubarão invadiu os limites próximos às praias, um alerta é dado para que os banhistas saiam da água. Eu já testemunhei um caso destes e vi o mar ser evacuado em minutos. Então não há como negar que a patrulha nas praias pode ser até mais efetiva que as redes.


O Programa das redes de proteção contra tubarões foi introduzido em NSW pela primeira vez em 1937. Mas com a eficácia de outras formas de monitoramento e o revés na morte de espécies marítimas, as pessoas ainda temem os tubarões, mesmo que estejam no habitat deles.


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