Brasil 'caminha a passos largos' de volta ao Mapa da Fome, diz diretor da ONU

Estudo do Banco Mundial cita que quase 14,7 milhões de brasileiros voltariam à linha da extrema pobreza até o fim de 2020 – ou 7% da população

Por: Por ATribuna.com.br  -  12/05/20  -  18:48
Ao todo, 3.200 moradores da Vila Esperança serão beneficiados
Ao todo, 3.200 moradores da Vila Esperança serão beneficiados   Foto: Rogério Soares/AT

Menos de seis anos após de tirar 14 milhões de pessoas da desnutrição, o Brasil caminha para retornar a uma triste realidade: estar de novo no Mapa da Fome. É o que afirma o economista Daniel Balaban, chefe do escritório brasileiro do Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), a maior agência humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU). 


A pandemia de coronavírus e seus efeitos econômicos foram creditados por ele para estimar que até 5,4 milhões de brasileiros - que equivale a população da Noruega - passem para a extrema pobreza em razão dos desdobramentos da Covid-19.  


Com isso, o total chegaria a quase 14,7 milhões até o fim de 2020, ou 7% da população, segundo estudos do Banco Mundial. “O Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014, mas está caminhando a passos largos para voltar", disse ele, em entrevista ao Jornal Estado de S. Paulo, nesta terça-feira (12).  


Entram no mapa países com mais de 5% da população em pobreza extrema, levando em conta anos anteriores. Na Baixada, o programa Bolsa Família pode ser um indicativo dessa escala. Atualmente, 60 mil famílias da região recebem o benefício. Porém, a quantidade deveria superar a 85 mil, caso fossem adotados os critérios de renda. Números que equivalem a 20% da população local. 


Balaban cita que o aumento da desigualdade tende a se espalhar por todo o planeta, afetando com intensidade países em desenvolvimento. “Temos hoje em torno de 821 milhões em situação de insegurança alimentar, mas há 135 milhões que realmente passam fome. São pessoas que estão não só em situação de insegurança, mas não tem o que comer”.   


Segundo cálculos da entidade, o número de pessoas com fome crônica no mundo pode dobrar em 2021, impactando 265 milhões de vidas. “Os países têm de se unir rapidamente para tentar evitar que esse número aumente”. aconselha. 


Conforme Balaban, o Brasil concentra um contingente de 9,3 milhões de pessoas na extrema pobreza (número quase cinco vezes superior à população da Baixada Santista). Entra nesta lista quem ganha menos de US$ 1,90 por dia (ou R$ 11). 


O economista cita a falta de “uma forte liderança nacional” para reverter esse cenário e cobra do Poder Público ação para a proteção da população. Segundo ele, o auxílio de R$ 600, “não resolve, mas ameniza o problema”. 


“Somos bombardeados no Brasil o tempo inteiro com informações falsas. É preciso identificar, multar e prender quem faz isso. O papel do Estado é fazer chegar alimentos e recursos financeiros para que essas famílias se mantenham. O Estado tem de ser capaz de ajudar a população em um momento como esse”. 


As informações são do Estadão Conteúdo.


Logo A Tribuna
Newsletter