Sem mostrar provas, o presidente Jair Bolsonaro foi às redes sociais nesta terça-feira, 10, acusar a vacina chinesa contra a covid-19 de causar "morte, invalidez e anomalia" e cantar vitória na disputa política que vem travando com o governador de São Paulo, João Doria, em torno do imunizante. "Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", escreveu.
A manifestação de Bolsonaro ocorre um dia depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspender os testes da vacina Coronavac após o registro de evento adverso grave em um voluntário dos estudos. Com a suspensão, o produto não pode ser mais aplicado em nenhum voluntário. O Instituto Butantan se disse surpreendido com a decisão da agência.
A acusação de Bolsonaro contra a Coronavac foi feita pelo Twitter em resposta ao internauta Lucas Monnerat Silva Ellera, que questionou se o Brasil vai comprar e produzir a vacina se ela tiver a segurança comprovada. A resposta de Bolsonaro é dada dentro da postagem em que ele lista uma série de ações do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações de combate ao novo coronavírus, incluindo testes da vacina BCG contra a covid-19.
"Morte, invalidez, anomalia... Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la", escreveu Bolsonaro, em referência à vacina produzida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, e o laboratório chinês Sinovac. "O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", completou.
A Coronavac está em fase três de testes, a mais avançada nesse tipo de estudo. A Anvisa anunciou a suspensão no mesmo dia em que o governador Doria anunciou que o primeiro lote de imunizantes chegaria a São Paulo no próximo dia 20.
O problema com o voluntário ocorreu em 29 de outubro, mas o órgão federal não detalhou qual evento adverso foi observado no participante. Ainda não se sabe se ele tomou a vacina ou placebo
No mês passado, dados apresentados pelo Butantan haviam mostrado grau elevado de segurança da vacina. Segundo a apresentação à época, a incidência de eventos adversos entre os voluntários do Butantan foi de 35% ante pelo menos 70% nas outras vacinas testadas. A comparação foi feita com dados das pesquisas de outros quatro imunizantes em estudos
Menos de 12 horas após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspender os testes com a vacina Coronavac, que está em desenvolvimento pelo Instituto Butantan do Governo de São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro fez uma extensa publicação nas redes sociais sobre quais ações o governo federal tem realizado para enfrentar a pandemia de Covid-19.
Entre as medidas mencionadas no Twitter, o presidente citou a realização de testes clínicos para verificar se a vacina BCG - que protege contra formas graves da tuberculose - é "uma maneira preventiva da covid-19, reforçando o sistema imunológico" e outros 15 protocolos de vacinas nacionais em desenvolvimento para o vírus.
- Baseado nas diretrizes da Redevirus, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, o @mctic :
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 10, 2020
1. Buscou entre 2000 medicamentos e encontrou a Nitazoxanida como remédio de reposição, cientificamente demonstrado no tratamento precoce da covid que reduz a carga viral. pic.twitter.com/Lj0XcU7Pve
Bolsonaro também mencionou, como um dos esforços promovidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, estudos sobre a nitazoxanida no tratamento precoce da Covid-19. O medicamento é um vermífugo que "reduz a carga viral", diz o tuíte do presidente, mas que não evita complicações da covid-19, segundo pesquisas médicas. Nas postagens, o presidente reforçou o caráter nacional das medidas implantadas e defendeu que o País ganhou independência de importações como, por exemplo, a de ventiladores pulmonares.
"O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e o presidente Jair Bolsonaro trabalham, desde fevereiro, ao lado da ciência, no combate à covid-19", escreveu Bolsonaro.
Suspensão dos testes
Logo que foi anunciada a suspensão dos testes da Coronavac, um dos imunizantes contra o coronavírus em fase mais avançada de testes, o Instituto Butantan se disse surpreso com a decisão da Anvisa os testes e lamentou não ter sido informado diretamente. Até a noite desta segunda-feira, o governo de São Paulo, responsável pelo Instituto Butantan, afirmou que ainda aguardava informações sobre "os reais motivos que determinaram a paralisação". O órgão regulador disse que a suspensão acontece pelo registro de um efeito adverso grave em um dos voluntários, mas não forneceu detalhes.