Bolsonaro ameaça jornalista: "vontade de encher de porrada"

O questionamento do repórter do jornal O Globo, que irritou o presidente Jair Bolsonaro, era sobre repasses de Fabrício Queiroz ao ex-assessor de Flávio Bolsonaro

Por: Do Estadão Conteúdo  -  24/08/20  -  00:45
O veto ainda passará por votação na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira
O veto ainda passará por votação na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira   Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

O presidente Jair Bolsonaro disse ter "vontade de encher de porrada" um jornalista do jornal O Globo, em frente à Catedral Metropolitana de Brasília, neste domingo (23).


Bolsonaro foi questionado pelo jornalista sobre repasses de R$ 89 mil feitos por Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, feitos à primeira-dama Michelle Bolsonaro. Isto ocorreu enquanto o presidente descia do carro, durante uma visita a feirinha de artesanato no local.

"Vontade de encher tua boca de porrada", respondeu Bolsonaro ao repórter. Jornalistas que acompanhavam a visita questionaram se a declaração era uma ameaça, mas o chefe do Executivo não respondeu mais e seguiu com a visita. Depois, voltou ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. O Palácio do Planalto foi questionado pelo Estadão sobre o teor da frase, mas não se manifestou.

Movimentações do extrato bancário de Márcia de Oliveira Aguiar, anexados à investigação sobre suposto esquema de 'rachadinha' no gabinete do senador Flávio Bolsonaro enquanto era deputado estadual no Rio, registram que seis cheques da mulher do ex-assessor Fabrício Queiroz foram compensados em favor da mulher do presidente Jair Bolsonaro em 2011, totalizando R$ 17 mil. Somados aos depósitos feitos por Fabrício tempos depois, o total chega a R$ 89 mil.


Repercussão


O PSDB diz em nota que a fala do presidente "desrespeita a liberdade de imprensa" e "não condiz com o cargo". "O presidente volta a mostrar apreço por posturas agressivas e antidemocráticas", publicou o perfil oficial do partido no Twitter. O MDB, por sua vez, pediu respeito aos jornalistas. "O presidente da República precisa se retratar", diz a legenda.

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) chamou a fala de "inaceitável". Ao Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, avaliou que o aumento da popularidade do presidente o encoraja a voltar a ativar sua base militante. "Bolsonaro bem comportado é uma ilusão... durou pouco", declarou à reportagem. Sâmia, hoje líder do PSOL na Câmara dos Deputados, diz que falas como a deste domingo, 23, "mostram a que o presidente veio".

Para a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), parlamentar com um histórico de embates com o presidente, o ataque ao jornalista é "gravíssimo". "Na democracia, tal atitude não pode ser tolerada. Chega deste tensionamento diário. Fora Bolsonaro", publicou Maria do Rosário no Twitter. O também petista Alencar Braga (SP) chamou a atitude de "ira de mafioso".

Entre os senadores, Humberto Costa (PT-PE) classificou o episódio como "absurdo". Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que Bolsonaro tem medo. "O medo de responder é tão grande que Bolsonaro quer silenciar quem o fiscaliza de toda forma... Ele vai dizer o mesmo à justiça?", questionou o parlamentar, no Twitter.


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