O primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020, aplicado somente neste domingo (17) por conta da pandemia da covid-19, trouxe uma preocupação a mais aos candidatos. Se, antes, eles tinham que estar com todo o conteúdo na cabeça para a prova, agora os cuidados com o coronavírus se somaram à lista de desafios a serem superados.
Pouco antes do início das provas, em Santos, o estudante Kauan Mendes, de 17 anos, dizia não estar com grandes expectativas em relação aos resultados. O motivo: o ano letivo atípico vivido em 2020. “Os estudos não foram suficientes neste ano. Sou matriculado na rede estadual, que não teve uma estrutura boa on-line. Esse exame de hoje será uma espécie de teste”.
A estudante Isadora Lopes Costa dos Santos, de 17 anos, estava preocupada com as questões sanitárias. “Eu me preparei bem, mas espero que eles respeitem as regras de covid-19, com distanciamento e limpeza nos banheiros. Fiz a Fuvest e isso tudo foi respeitado. Espero que o Inep siga isso”.
O que era um temor para Isadora se tornou motivo de revolta para a dentista Ana Paula Galatini, de 53 anos, mãe de um estudante que fez o exame. Ela acompanhou o candidato até a sala e saiu indignada.
“Praticamente não tem distanciamento entre as mesas, é muito pequeno. Quando reclamei com a funcionária do local, ela me disse que ‘foi o que deu para fazer’. Sou profissional de saúde e trabalho em hospital, vejo os casos aumentando entre os jovens. Isso é temerário”, desabafa.
Procurado por A Tribuna, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) não se manifestou sobre a queixa.
Redação
O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira. Esse foi o tema da redação do Enem, neste domingo (17). Os candidatos tiveram que abordar o assunto em um texto dissertativo-argumentativo, com até 30 linhas, desenvolvido a partir do problema proposto pelos textos motivadores.
Para o professor do Educafro, Julio Evangelista, o Enem trouxe um tema muito pertinente. “Esse é um dos grandes tabus do século 20 e início do 21. Muitas vezes renegamos ou estereotipamos doenças mentais que têm tratamento e possibilidades de cura. Pessoas não procuram ajuda com medo de serem rejeitas. Então, é um tema acertado na conjuntura do século 21 e, também, pelo momento pandêmico que vivemos”, explica o professor.
Evangelista destaca, no entanto, que os candidatos tinham que ter atenção aos caminhos apontados pelos textos de apoio. “Porém, de fato, é um assunto que precisa ser visibilizado e problematizado. Só assim não teremos, por exemplo, uma sociedade que vê a depressão como um problema incomum e intratável”, finaliza o especialista.