Lugares Sagrados

Um lugar sagrado é aquele que nos traz paz, que lava a alma, que reconcilia, que parece amparar em algumas situações ou estimular, em momentos precisos

Por: Luiz Alca  -  24/01/21  -  10:30

Um grande mestre antroposófico, o indiano radicado na Inglaterra, Ragna Gandha, uma das luzes intelectuais e espirituais do século 20, que até os 96 anos exerceu plenamente sua função de ajudar o próximo a enxergar além de da cotidianidade e buscar a evolução, afirmava que cada um de nós tem os seus lugares sagrados e que devemos cultivá-los como fontes de bem estar e reconciliação.


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Creio que os nossos lugares sagrados são aqueles que nos permitem atingir um grau maior de
sensibilidade, que nos inspiram ou nos conduzem de volta aos sonhos, por mais que a realidade esteja ali mostrando suas circunstâncias duras ou tirânicas, nos obrigando a resolver questões prosaicas.


É óbvio que se trata de um sentido extremamente pessoal e que só a cada um diz respeito. Como o
carisma, palavra tão mal usada pelas pessoas ao afirmar em qualquer entrevista ou avaliação "fulano é muito carismático". Carisma, tanto como um lugar sagrado é a atração, o magnetismo exercido, o que nunca pode ser generalizado. Não há carismático como rótulo, assim como não há um local sacralizado, já que pode ser para uns e não para outros.


Em viagem percebe-se isso claramente. Enquanto alguém se extasia e olha para uma paisagem como
se aquilo fosse seu templo de devoção, um outro passa batido, nem aí para o que vê ou fica
conversando com companheiros ou com o guia da excursão. Já tive êxtases em paisagens nem tão
paradisíacas ou cidades pouco destacadas e não me toquei tanto em marcos estabelecidos como pontos deslumbrantes.


Um lugar sagrado é aquele que nos traz paz, que lava a alma, que reconcilia, como disse acima, que parece amparar em algumas situações ou estimular, em momentos precisos. Sem muito papo-cabeça ou explicações razoáveis, também sem teorizar, o que não combina com o encantamento e a magia. Menos ainda com renovação de forças e recondicionamento de energia.


Também surgem para nós no trivial, em espaços dentro de um ambiente conhecido; sim, não são
privilégios do extra, do nunca antes visto. Uma determinada poltrona num cantinho da casa perto de uma janela, aquela visão do seu terraço ou o banquinho por entre as plantas, podem ser lugares sagrados numa outra dimensão: aquela da simplicidade, que parece responder às perguntas internalizadas e apaziguar as angústias sem nome e além de motivos.


Eis porque não precisa ser uma igreja, um templo ou um monumento considerando transcendente por determinação oficial. Com certeza, ninguém estabelece ou substabelece o que envolve alguém. É muito bom quando a nossa casa se torna para nós um lugar sagrado, onde nos renovamos e
capitulamos. Pensei nisso, no último domingo à noite, um horário em que fico sozinho assim que acabei de reler um texto de Gandha em que ele menciona essa propriedade divina nas coisas materiais. E num retrocesso mental, descobri muitos lugares sagrados para mim, desde que me conheço por gente.


O melhor de tudo foi perceber o sacro também na minha vida e na minha atual forma de agir, com toda a humildade. Nela, felizmente, há amor sincero pelos amigos e por mim mesmo e interesse por lutar para atingir um mínimo de evolução. O que pode ser mais sagrado do que isso?


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